São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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MISSÃO NO CARIBE

Soldados brasileiros no Haiti devem respeitar decálogo das Nações Unidas com regras de comportamento

Empatia vale mais que arma na força de paz

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

A principal arma dos soldados em missões de paz das Nações Unidas não são o fuzil e os blindados que eles muitas vezes levam. São a empatia com a população local e a capacidade de dialogar com as duas partes em conflito, segundo veteranos de missões de paz.
Os 1.200 soldados brasileiros da força de paz fazem parte de um total de mais de 8.000 homens e mulheres da chamada Missão de Estabilização da ONU no Haiti, que a partir de terça-feira começa a tomar o lugar da Força Interina Multilateral (FIM), liderada pelos Estados Unidos.
A missão internacional tem prazo de dois anos para ficar no país (a permanência inicial dos brasileiros é de seis meses, mas pode ser prorrogada). No ano que vem deverão ocorrer novas eleições, prevendo-se que um novo presidente assuma o cargo em fevereiro de 2006.
"O soldado brasileiro, cordial por natureza, por características próprias de nossa cultura miscigenada, multirracial, e amparado pela boa formação profissional que recebe, mostra aptidão muito acima da média para esse tipo de operação militar", disse o general Francisco Roberto de Albuquerque, comandante do Exército.
O destacamento precursor brasileiro chegou na manhã de ontem à capital haitiana, Porto Príncipe. São 42 militares embarcados em cinco aviões de transporte C-130 Hércules lotados de equipamento. Amanhã, mais 150 militares embarcam em outros quatro C-130. A maior parte do equipamento, contêineres e veículos está seguindo em navios da Marinha.
O país, que tem uma população de cerca de 7,5 milhões de habitantes, foi pacificado por um número pequeno de soldados após a rebelião que resultou na queda do presidente Jean-Bertrand Aristide. A força multilateral conta com apenas 3.500 homens, dos quais a maior parte é constituída por fuzileiros navais americanos (1.940 homens).
Outras tropas são da França, Canadá e Chile. Apenas os chilenos deverão continuar por mais tempo. A força da ONU deverá ter componentes principalmente da América Latina, como Argentina, Uruguai e Paraguai.
Parte da tropa brasileira, o 19º Batalhão de Infantaria Motorizado, de São Leopoldo (RS), já foi preparada para missões de paz.
O treinamento inclui o aprendizado das regras de conduta específicas nesse tipo de missão. Como parar um automóvel, guarnecer um posto de controle, fazer uma busca, ou como lidar com manifestantes são alguns exemplos de tarefas que têm de ser treinadas.
A empatia que o soldado da ONU precisa mostrar é resumida em três palavras que começam com "f", em inglês: firm (firme), fair (justo, imparcial) e friendly (amigável).
A ONU já teve transtornos no passado com tropas em missão de paz que causaram problemas e colocaram a própria operação em risco. Foi o caso, por exemplo, de canadenses que se envolveram em violência na Somália. Às vezes, a simples presença de militares estrangeiros pode trazer conseqüências como o grande aumento na prostituição.

Decálogo
Por isso a ONU criou um decálogo com as regras de comportamento dos "capacetes azuis". O objetivo é evitar atritos com a população local.
De acordo com o decálogo, o soldado deve se comportar com dignidade e disciplina. Deve respeitar a lei e os costumes locais. Deve tratar os habitantes com cortesia e não solicitar presentes ou recompensa material.
Também deve respeitar os direitos humanos, cuidar do equipamento da ONU, mostrar cortesia militar aos membros de outros contingentes, respeitar o ambiente, não consumir drogas nem álcool em excesso e usar de discrição ao lidar com informações confidenciais.


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