São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Conservadores ameaçam retirar apoio a Ahmadinejad

Antigos aliados do presidente do Irã se irritam com desafio ao líder supremo

Dirigente iraniano rejeitou ordem do aiatolá Khamenei para destituir seu braço direito do governo; sob críticas, acabou cedendo


DO "FINANCIAL TIMES"

Em um sinal das crescentes disputas políticas no governo iraniano, o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi advertido por alguns de seus mais ferrenhos partidários de que talvez não sobreviva a um segundo mandato de quatro anos. A reeleição de Ahmadinejad em um pleito contestado, no mês passado, deu origem às mais sérias inquietações já vistas na República Islâmica. Ao menos 20 pessoas foram mortas e centenas foram detidas pelas forças de segurança, que reprimiram protestos de rua. O resultado foi considerado ilegítimo por diversos líderes oposicionistas, e agora alguns partidários de Ahmadinejad aderiram às críticas, afirmando que ele não deveria considerar seu apoio permanente. As críticas surgiram depois que Ahmadinejad, em uma ação sem precedentes, desafiou uma "decisão de Estado" do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que ordenou a demissão do homem apontado como braço direito do presidente, Esfandir Rahim Mashai, da primeira Vice-Presidência. A revista semanal "Ya-Lesarat", que representa o segmento mais radical dos partidários de Ahmadinejad, ameaçou ontem em editorial a retirada de seu apoio caso o presidente volte a desafiar o líder supremo. "Não votamos em um indivíduo; nossos votos foram dados às grandes causas da revolução islâmica e da "velayat-e faghih" absoluta [o poder de suprema jurisprudência do qual Khamenei está investido]", afirmou a revista. "Se o senhor agir de maneira contrária a isso, apelaremos com toda a força para retirar nossos votos". A Associação Islâmica de Engenheiros, uma proeminente organização política conservadora e forte partidária de Ahmadinejad, também divulgou comunicado em que ameaçava indiretamente o presidente com o colapso de seu governo. A organização dizia que a manutenção do apoio a Ahmadinejad dependeria da obediência incondicional a Khamenei. Por fim, em carta ao líder supremo, Ahmadinejad declarou que obedeceria à ordem devido à cláusula constitucional que atribui a Khamenei a última palavra nas decisões. Os fundamentalistas reagiram com ira, afirmando que ele deveria ter obedecido sem questionar, e não apenas por obrigação legal. Mas os riscos para o presidente são incertos. "A ameaça de remover Ahmadinejad existe apenas nas camadas intermediárias do regime e não parece ter chegado aos principais líderes, entre os quais Khamenei, porque o custo de derrubar o governo seria excessivo", disse o reformista Mohammad-Sadegh Javadi-Hesar.
No Iraque
Enquanto no Irã o governo se vê em posição delicada, no Iraque um grupo de refugiados iranianos de oposição a Teerã vem enfrentando soldados iraquianos há dois dias. Os choques ocorreram quando as forças iraquianas assumiram o controle do campo em que vivem refugiados da Organização Popular dos Mujahideen do Irã (PMOI), considerada terrorista pelo Iraque e pelos EUA. Os EUA, porém, protegiam o campo devido à colaboração dos exilados com seus serviços de inteligência. O PMOI afirma que houve 11 mortes, o que o governo iraquiano nega. Teerã celebrou as notícias dos choques, que geraram temores sobre sua influência sobre Bagdá.
Tradução de PAULO MIGLIACCI



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