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Análise
Eleitores tentam crer no fim do imobilismo
MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Mudança. Com essa palavra
na cabeça, os eleitores japoneses irão votar no domingo. A
questão é: como se faz isso? Como se muda? Ninguém sabe.
O Partido Liberal Democrata
(PLD) está no poder desde
1955. Em 54 anos, seus partidários só não mandaram durante
alguns meses. O partido é o
símbolo da estabilidade. Está
onde sempre esteve.
Essa permanência não é à
toa. O PLD foi o partido que liderou o "milagre japonês", o
período entre os anos 50 e 70
no qual o país deixou para trás a
miséria da derrota na Segunda
Guerra Mundial para se tornar
a segunda maior potência econômica do mundo.
Além disso, o Japão é um país
"naturalmente" conservador.
Isso não vale somente para o
Japão moderno, que nasceu da
derrubada do sistema feudal,
em 1870. Já no começo do século 17, quando Yeiasu Tokugawa
venceu seus adversários e se
tornou o governante de fato do
império japonês, a imobilidade
era a virtude máxima. Faz 400
anos que o Japão não muda.
Ser previsível, conhecer o seu
lugar, seguir os mais velhos,
pensar sempre no coletivo, no
grupo -de certa maneira, ser
japonês é ser conservador.
Nada menos japonês que o
jeitinho. Nada menos japonês
que o elogio à individualidade.
Nada menos japonês que a revolução. Nada mais japonês
que a tradição.
Essa maneira de pensar é a
base ideológica de uma burocracia de Estado, muito mais
estável que qualquer partido.
No fundo, são esses burocratas
que governam o país e ditam
sua política, e não o PLD ou outro grupo, por mais "conservador" que ele seja.
Toda essa previsibilidade, diga-se, foi muito útil ao país. Peça importante no tabuleiro político da Guerra Fria, o conflito
não declarado que por mais de
quatro décadas opôs os Estados
Unidos à União Soviética, o Japão se tornou o mais confiável e
previsível aliado de seu inimigo
na Segunda Guerra Mundial, os
EUA.
O país deixou a política externa nas mãos dos norte-americanos e se concentrou em ficar rico. O sistema funcionou
bem até o fim da URSS, no começo dos anos 90. Foi aí que a
China e seu mercado de mais de
um bilhão de seres humanos se
tornaram mais importantes, e o
Japão, menos necessário.
Parte da crise econômica japonesa, que dura quase 20
anos, é fruto dessa situação,
que não foi enfrentada adequadamente pelo PLD. Taro Aso, o
atual primeiro-ministro, é só
um de uma longa linhagem de
líderes que nada mudaram.
O problema é que, agora, a
mudança está às portas. A população envelheceu, o país envelheceu, a China é logo ali e a
economia mundial não vai
muito bem. Mudar é preciso. O
problema é como.
Vai ser possível mudar a própria essência da política japonesa, o jogo de compadrio e as
negociatas que eram a especialidade do PLD? Os partidários
do PDJ dizem que sim. E sem
poder escolher muito, o eleitor
parece querer acreditar neles.
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