São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Análise

Eleitores tentam crer no fim do imobilismo

MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Mudança. Com essa palavra na cabeça, os eleitores japoneses irão votar no domingo. A questão é: como se faz isso? Como se muda? Ninguém sabe.
O Partido Liberal Democrata (PLD) está no poder desde 1955. Em 54 anos, seus partidários só não mandaram durante alguns meses. O partido é o símbolo da estabilidade. Está onde sempre esteve.
Essa permanência não é à toa. O PLD foi o partido que liderou o "milagre japonês", o período entre os anos 50 e 70 no qual o país deixou para trás a miséria da derrota na Segunda Guerra Mundial para se tornar a segunda maior potência econômica do mundo.
Além disso, o Japão é um país "naturalmente" conservador. Isso não vale somente para o Japão moderno, que nasceu da derrubada do sistema feudal, em 1870. Já no começo do século 17, quando Yeiasu Tokugawa venceu seus adversários e se tornou o governante de fato do império japonês, a imobilidade era a virtude máxima. Faz 400 anos que o Japão não muda.
Ser previsível, conhecer o seu lugar, seguir os mais velhos, pensar sempre no coletivo, no grupo -de certa maneira, ser japonês é ser conservador.
Nada menos japonês que o jeitinho. Nada menos japonês que o elogio à individualidade. Nada menos japonês que a revolução. Nada mais japonês que a tradição.
Essa maneira de pensar é a base ideológica de uma burocracia de Estado, muito mais estável que qualquer partido. No fundo, são esses burocratas que governam o país e ditam sua política, e não o PLD ou outro grupo, por mais "conservador" que ele seja.
Toda essa previsibilidade, diga-se, foi muito útil ao país. Peça importante no tabuleiro político da Guerra Fria, o conflito não declarado que por mais de quatro décadas opôs os Estados Unidos à União Soviética, o Japão se tornou o mais confiável e previsível aliado de seu inimigo na Segunda Guerra Mundial, os EUA.
O país deixou a política externa nas mãos dos norte-americanos e se concentrou em ficar rico. O sistema funcionou bem até o fim da URSS, no começo dos anos 90. Foi aí que a China e seu mercado de mais de um bilhão de seres humanos se tornaram mais importantes, e o Japão, menos necessário.
Parte da crise econômica japonesa, que dura quase 20 anos, é fruto dessa situação, que não foi enfrentada adequadamente pelo PLD. Taro Aso, o atual primeiro-ministro, é só um de uma longa linhagem de líderes que nada mudaram.
O problema é que, agora, a mudança está às portas. A população envelheceu, o país envelheceu, a China é logo ali e a economia mundial não vai muito bem. Mudar é preciso. O problema é como.
Vai ser possível mudar a própria essência da política japonesa, o jogo de compadrio e as negociatas que eram a especialidade do PLD? Os partidários do PDJ dizem que sim. E sem poder escolher muito, o eleitor parece querer acreditar neles.


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