São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Divergências desafiam favoritos no Japão

Formada por "partidos internos" que discordam em temas estruturais, sigla opositora terá problemas se vencer, diz economista

Papel do Estado, política externa e ambiente opõem correntes; faltam propostas para reverter dificuldades enfrentadas pela economia

DO ENVIADO A TÓQUIO

Sem aumentar a produtividade do Japão, o padrão de vida no país irá despencar, graças ao rápido envelhecimento de sua população.
Economista-chefe e diretor-gerente do banco Morgan Stanley no Japão, Robert Alan Feldman não é muito otimista com a mudança que pode acontecer na eleição de hoje. "Nenhum dos dois partidos falou de deflação, de produtividade, de crescimento", diz. Ph.D em Economia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Feldman mora em Tóquio há 20 anos e já foi escolhido como um dos cinco economistas mais influentes do país.
Para ele, o mais difícil para o Partido dos Democratas do Japão será "sobreviver à vitória". "Apesar do nome, são vários partidos em um". A seguir, trechos da entrevista. (RJL)

 

DIFÍCIL COESÃO
Apesar de se chamar Partido Democrático do Japão, o PDJ são vários partidos internos, que vão da direita à esquerda em muitos dos grandes temas. Vai ser difícil mantê-los unidos.
Em privatização, há discordâncias entre vender muito ou reverter privatizações. No meio ambiente, o lobby verde quer limites para a redução da emissão de gases, enquanto defensores dos sindicatos da indústria automobilística são contra. Na política externa, a divisão é entre seguir os EUA em tudo ou ter mais autonomia. Só haverá mais confiança no governo quando essas divergências se assentarem.

ENVELHECIMENTO
Durante a campanha, os dois partidos não falaram de deflação, de produtividade. Praticamente não falaram sobre crescimento. O relógio que deveria impor o ritmo das mudanças no Japão é o do envelhecimento da população. E esse relógio anda rápido. A menos que a produtividade aumente na mesma velocidade, o padrão de vida dos japoneses vai despencar, com menos trabalhadores e mais aposentados.

DEFICIT CRESCE
O PDJ está propondo algo como 20 trilhões de ienes de novos gastos (US$ 220 bilhões). Eles dizem que vão realocar recursos a partir de cortes em gastos desnecessários, melhora na arrecadação e na venda de bens do governo. Mesmo se esses dados forem corretos, não há plano no PDJ para se reduzir o deficit. Isso é necessário para fomentar a confiança do investidor em um governo do PDJ. Mas essas reformas requerem duras batalhas políticas. São difíceis de implementar, não importa quem governe. Não haverá sucesso rápido em reforma fiscal. O Japão deve encarar uma longa caminhada.

JAPÃO COMPLACENTE
Mesmo que o PDJ conquiste vasta maioria no Parlamento, a política não será suave. Os mercados continuarão tensos, e as batalhas políticas prosseguirão. Há ciclos que se repetem: crise, seguida de uma pequena melhora, e [então] chega a complacência. Infelizmente, o Japão continua na fase complacente.
O que pode despertar o Japão e provocar mudanças de verdade é a perda de competitividade das empresas do país. Os níveis de produtividade de outros países asiáticos e emergentes estão crescendo aceleradamente. Se a vantagem tecnológica do Japão se perder, o atual superavit pode evaporar. O Japão então teria que pedir emprestado de fora para financiar seus deficits. Isso não seria fácil por conta do alto endividamento nacional, perto de 180% do PIB.

CHINA E EUA
Há sinais positivos de recuperação na China e nos EUA, o que vai ajudar a indústria exportadora do Japão. Mas domesticamente a deflação persiste, os salários continuam caindo, e as indústrias trabalham com capacidade baixa.

FACÇÕES
Um grupo do PDJ não quer usar forças armadas no exterior e busca um papel maior para o setor público em investimentos e recursos. Um segundo grupo defende menos envolvimento do setor público na economia, mas um papel ativo do Japão em política externa. Esse é o grupo de Yukio Hatoyama, que pode se tornar o novo primeiro-ministro. Um terceiro grupo quer um papel ainda menor para o setor público na economia, defendendo uma agressiva privatização de empresas públicas, terceirizando serviços públicos e com menor restrição para a utilização das Forças de Autodefesa do Japão.


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