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Doença pode devastar vidas e indústria, afirma autor
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Na melhor das hipóteses, a gripe
do frango pode devastar toda a indústria de criação de aves no planeta. Na pior, levar consigo "possivelmente até centenas de milhões de vidas" no caminho. Essa
é a visão "cautelosa" elaborada
pelo o veterinário Mark Jerome
Walters, 52, autor do livro "As
Seis Pragas Modernas", que relaciona as doenças com a alteração
intencional do ambiente.
Para Walters, um vírus que surgiu a reboque da atividade humana poderá modificar profundamente o modo de viver da geração
atual, eliminando boa parte dela
durante a transformação. Em entrevista à Folha, ele avalia o eventual impacto do vírus H5N1, diz
que tem medo, recomenda o estoque de água, comida e dinheiro e
diz que já não é mais possível conter a disseminação da doença.
Leia abaixo alguns trechos.
Folha-O que está em jogo no caso
da gripe aviária?
Mark Jerome Walters- É preciso
abordar dois aspectos. O primeiro
ponto é a perda de vidas humanas. Vamos avaliar os cenários de
melhor e pior caso. O que está em
jogo é a perda e a destruição da indústria de frango praticamente
em toda parte onde esse vírus for
encontrado. Já devastou a indústria em muitas partes da Ásia e está começando na Europa oriental
e na Grécia e, inevitavelmente, no
resto da Europa, no Reino Unido
e em todo o mundo. Esse é provavelmente o melhor cenário. Agora, o que acontecerá se isso virar
um vírus humano é a perda de
milhões, talvez dezenas de milhões e possivelmente até centenas de milhões de vidas.
Folha- Mas ninguém tem certeza
se o vírus terá tal capacidade de
mutação.
Jerome- Certo. Sabemos que teremos outra epidemia de influenza. É como dizer que haverá outro
ciclone na Ásia ou um tsunami
em qualquer lugar. Não sabemos
se o H5N1, da gripe aviária, vai virar uma epidemia, mas a grande
maioria dos experts acredita que
irá. A questão não é se isso vai se
tornar uma epidemia, mas quão
ruim vai ser. A pergunta é se vai
continuar matando essa enorme
porcentagem de pessoas infectadas ou se tornar menos mortal.
Folha- Há chance de surgir uma
vacina?
Jerome- Há alguns remédios no
mercado. Tamiflu e Relenza, e
ambos parecem ser efetivos em
controlar o vírus uma vez que alguém o contraia. O problema é se
o vírus se tornar resistente, e essa
é uma grande possibilidade. Uma
vacina, que seria a única resposta
real, vai ser desenvolvida em tempo? Sou pessimista. Se tivermos
sorte e esse vírus não se tornar
contagioso de pessoa para pessoa
em um ano ou dois, então talvez
tenhamos uma vacina. Mas o problema é que o vírus muda muito
rapidamente. Uma primeira vacina foi desenvolvida quando o
H5N1 apareceu pela primeira vez
em 1997, em Hong Kong. Mas, em
2003, havia evoluído, e a vacina
não funcionava mais.
Folha- Se voltarmos a conversar
daqui a dois anos sobre isso, qual
será o assunto?
Jerome- Acho que teremos uma
de duas conversas. Sobre como
fomos imensamente sortudos de
os dois termos sobrevivido, falar
sobre familiares que teremos perdido, como sua Redação e a minha universidade estarão mais
quietos depois de tantos morrerem. Ou então uma conversa do
tipo: "Meu Deus! Que sorte, isso
não nos atingiu ainda, o vírus não
evoluiu, existe uma vacina".
Folha- E daqui a dez anos?
Jerome- Desde os anos 80 tivemos mais de 35 doenças novas. E
o surgimento delas está se acelerando. HIV, doença da vaca louca... Então acho que estaremos falando sobre muitas outras doenças. Suspeito que o ponto de referência seja a epidemia de influenza, o que aprendemos com ela.
Também vamos ver o ressurgimento de outras. Certamente malária, na América Latina. Historicamente, temos ondas de novas
doenças. A primeira aconteceu há
10 mil anos, quando as pessoas
começaram a domesticar animais. Estamos agora nesta onda
de novas doenças, que pode durar
até mil anos. Essas pragas fazem
parte da nosso futuro. Quantas
pessoas morreram de HIV? Umas
15 milhões? É o que poderia acontecer com o H5N1, em meses.
Folha- O sr. tem medo?
Jerome- Estou apavorado. Não
há nada que possa fazer para impedir. Estou planejando sair menos de casa, ter suprimentos básicos estocados, usar máscaras para
algum tipo de proteção, tentar ter
algum dinheiro na mão, para evitar bancos, tentar conseguir Tamiflu. Temos de lembrar da ação
mais simples que as pessoas podem tomar para evitar doenças
no mundo: lavar as mãos.
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