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MISSÃO NO CARIBE
O "americano" Siméus, que fez fortuna nos EUA, teve sua candidatura ratificada pela Corte Suprema
Milionário é surpresa das eleições no Haiti
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Dumarsais Siméus, 66, é o primeiro de 12 filhos de um casal de
camponeses analfabetos. Na juventude, como centenas de milhares de haitianos, deixou o país
rumo aos EUA. Mas, em vez de ficar estacionado em empregos
pouco qualificados, ele prosperou
-e muito: cursou engenharia, fez
mestrado em economia na Universidade de Chicago e fundou a
empresa de alimentos Simeus
Foods International, com um patrimônio estimado em cerca de
US$ 100 milhões.
A biografia surpreendente é
agora a principal arma de Siméus
para vencer os demais 33 candidatos da confusa eleição presidencial haitiana, adiada quatro
vezes e ainda sem data marcada
-o primeiro turno está previsto
para a primeira quinzena de dezembro.
"É possível dizer isso", falou Siméus, em entrevista por telefone,
de Porto Príncipe, à Folha, ao ser
questionado se a sua história de
vida é o principal trunfo eleitoral.
Há três meses, Siméus abandonou a administração de suas duas
fábricas, no Texas e na Carolina
do Norte, e voltou ao Haiti após
44 anos para disputar a Presidência do país onde 65% vivem abaixo da linha da pobreza e que só
não explodiu numa guerra civil
em 2004 por causa da missão de
paz da ONU, cuja chefia militar
está a cargo do Brasil.
Por causa da ausência de pesquisas eleitorais confiáveis, é praticamente impossível saber hoje
se Siméus tem chances de chegar
ao segundo turno. Mas a sua candidatura, lançada há três meses,
tem ganhado cada vez mais visibilidade devido à forte oposição interna, sobretudo do próprio premiê interino Gérard Latortue
-ele mesmo radicado anteriormente nos EUA- e da influente
elite empresarial de Porto Príncipe, que apóia um candidato branco, o milionário "Charlito" Baker.
O principal argumento é que ele
não pode concorrer porque não
teria mais a cidadania haitiana e
não morou no país nos últimos
cinco anos, como prevê a Constituição. Siméus diz que tem dupla
nacionalidade e que as regras
constitucionais não têm sido aplicadas desde a queda do governo
Aristide, em fevereiro de 2004.
O caso foi parar na Suprema
Corte, que manteve a sua candidatura. Na semana passada, porém, Siméus foi acusado formalmente pelo Conselho Eleitoral
Provisório de apresentar documentos falsos ao registrar a candidatura. E, na última quinta-feira,
o governo de Latortue montou
uma comissão só para verificar a
nacionalidade dos candidatos. Siméus, claro, é o primeiro da fila.
Todas essas manobras, no entanto, aparentemente têm fortalecido a imagem de Siméus.
Propaganda gratuita
"Ele está tirando proveito do esforço do governo de tirá-lo da
competição, o que confirma justamente sua mensagem de que é
um adversário independente",
disse um analista estrangeiro em
Porto Príncipe, sob a condição do
anonimato. "É uma pessoa que
encarna o sonho de muitos haitianos, de ir ao estrangeiro, fazer fortuna e regressar", afirmou.
Se Siméus é um candidato viável, ele tem condições de assegurar a governabilidade? Para muitos, o imbróglio haitiano -onde
apenas um presidente eleito terminou seu mandato em 201 anos
de independência- não é tarefa
para "forasteiros".
"É impossível para alguém da
diáspora manobrar pelas minas
políticas haitianas", afirma Marie
Florence Bell, presidente da Força-Tarefa para o Haiti, criada pelo
governador da Flórida, Jeb Bush
-irmão do presidente George
W. Bush-, e da qual o próprio Siméus fez parte.
Para Leslie Voltaire, ex-ministro da Educação no governo Aristide, a candidatura é bem-vinda.
"A Presidência do Haiti é um trabalho tão difícil que deveria ser
anunciado como um cargo internacional", afirma.
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