São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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MISSÃO NO CARIBE

O "americano" Siméus, que fez fortuna nos EUA, teve sua candidatura ratificada pela Corte Suprema

Milionário é surpresa das eleições no Haiti

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Dumarsais Siméus, 66, é o primeiro de 12 filhos de um casal de camponeses analfabetos. Na juventude, como centenas de milhares de haitianos, deixou o país rumo aos EUA. Mas, em vez de ficar estacionado em empregos pouco qualificados, ele prosperou -e muito: cursou engenharia, fez mestrado em economia na Universidade de Chicago e fundou a empresa de alimentos Simeus Foods International, com um patrimônio estimado em cerca de US$ 100 milhões.
A biografia surpreendente é agora a principal arma de Siméus para vencer os demais 33 candidatos da confusa eleição presidencial haitiana, adiada quatro vezes e ainda sem data marcada -o primeiro turno está previsto para a primeira quinzena de dezembro.
"É possível dizer isso", falou Siméus, em entrevista por telefone, de Porto Príncipe, à Folha, ao ser questionado se a sua história de vida é o principal trunfo eleitoral.
Há três meses, Siméus abandonou a administração de suas duas fábricas, no Texas e na Carolina do Norte, e voltou ao Haiti após 44 anos para disputar a Presidência do país onde 65% vivem abaixo da linha da pobreza e que só não explodiu numa guerra civil em 2004 por causa da missão de paz da ONU, cuja chefia militar está a cargo do Brasil.
Por causa da ausência de pesquisas eleitorais confiáveis, é praticamente impossível saber hoje se Siméus tem chances de chegar ao segundo turno. Mas a sua candidatura, lançada há três meses, tem ganhado cada vez mais visibilidade devido à forte oposição interna, sobretudo do próprio premiê interino Gérard Latortue -ele mesmo radicado anteriormente nos EUA- e da influente elite empresarial de Porto Príncipe, que apóia um candidato branco, o milionário "Charlito" Baker.
O principal argumento é que ele não pode concorrer porque não teria mais a cidadania haitiana e não morou no país nos últimos cinco anos, como prevê a Constituição. Siméus diz que tem dupla nacionalidade e que as regras constitucionais não têm sido aplicadas desde a queda do governo Aristide, em fevereiro de 2004.
O caso foi parar na Suprema Corte, que manteve a sua candidatura. Na semana passada, porém, Siméus foi acusado formalmente pelo Conselho Eleitoral Provisório de apresentar documentos falsos ao registrar a candidatura. E, na última quinta-feira, o governo de Latortue montou uma comissão só para verificar a nacionalidade dos candidatos. Siméus, claro, é o primeiro da fila.
Todas essas manobras, no entanto, aparentemente têm fortalecido a imagem de Siméus.

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"Ele está tirando proveito do esforço do governo de tirá-lo da competição, o que confirma justamente sua mensagem de que é um adversário independente", disse um analista estrangeiro em Porto Príncipe, sob a condição do anonimato. "É uma pessoa que encarna o sonho de muitos haitianos, de ir ao estrangeiro, fazer fortuna e regressar", afirmou.
Se Siméus é um candidato viável, ele tem condições de assegurar a governabilidade? Para muitos, o imbróglio haitiano -onde apenas um presidente eleito terminou seu mandato em 201 anos de independência- não é tarefa para "forasteiros".
"É impossível para alguém da diáspora manobrar pelas minas políticas haitianas", afirma Marie Florence Bell, presidente da Força-Tarefa para o Haiti, criada pelo governador da Flórida, Jeb Bush -irmão do presidente George W. Bush-, e da qual o próprio Siméus fez parte.
Para Leslie Voltaire, ex-ministro da Educação no governo Aristide, a candidatura é bem-vinda. "A Presidência do Haiti é um trabalho tão difícil que deveria ser anunciado como um cargo internacional", afirma.

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