São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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Atentado no Quênia será desafio ao Mossad

JEFFREY HELLER
DA REUTERS, EM JERUSALÉM

Não será fácil para a agência de espionagem israelense, o Mossad, cumprir as ordens do premiê Ariel Sharon de localizar os responsáveis pelos ataques contra um hotel e um avião israelenses no Quênia, disseram especialistas.
A última vez em que o Mossad saiu para realizar assassinatos políticos, 30 anos atrás, depois do massacre de 11 atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, em 1972, seu alvo era claro: o grupo palestino Setembro Negro, que tinha tomado os atletas reféns. Hoje, porém, os especialistas em inteligência israelenses atribuem os ataques da quinta-feira à rede Al Qaeda, de Osama bin Laden, o que significa que o Mossad teria que rastrear um inimigo multinacional com muitos rostos e células instaladas em diversos países.
"Acho que Israel vai buscar informações com a CIA [agência de inteligência dos EUA] e o Quênia, mas, se identificar os responsáveis pelos ataques, vai tentar eliminá-los", disse Yossi Melman, especialista israelense no Mossad.
Melman disse que os ataques no resort turístico às margens do Índico, onde turistas israelenses que chegam em vôos fretados semanais buscam distância das agruras da Intifada, parecem ter sido obra da "Al Qaeda local" da África oriental ou do Iêmen.
"O Mossad tem mais experiência do que os americanos com assassinatos políticos", disse Melman, co-autor do livro "Cada Espião um Príncipe", sobre a comunidade de inteligência israelense. "Mas os EUA têm muito mais informações sobre a Al Qaeda."
Autoridades israelenses disseram que Sharon encarregou o Mossad de uma operação que marcará sua entrada na guerra global ao terrorismo declarada pelos EUA após os ataques de 11 de setembro de 2001. "Israel agora enfrenta um terror enorme. E a ameaça vinda desse terror é muitíssimo maior do que o terror palestino", disse Giora Shamis, editor-chefe do site Debka.com, especializado em assuntos ligados a inteligência. Mas ele sugere que a promessa de Sharon pode ser apenas retórica vazia pois o premiê está sendo pressionado pelos EUA para não aumentar as tensões no Oriente Médio enquanto Washington tenta conseguir apoio árabe para uma possível guerra contra o Iraque. Mesmo que o faça, disse ele, o Mossad estaria entrando "num túnel muito longo e escuro" se se propusesse a enfrentar a Al Qaeda inteira.
"Não é uma operação de uma única organização", disse Shamis, falando sobre os ataques de anteontem no Quênia. "Como costuma ser o caso com a Al Qaeda, foi um trabalho conjunto de algumas organizações."
Três décadas atrás, o Mossad, ou Instituto de Inteligência e Tarefas Especiais, foi implacável em sua caçada ao grupo Setembro Negro. Semanas depois que o ataque de setembro de 1972 e a tentativa fracassada de resgate feita pela Alemanha terminaram com a morte dos 11 israelenses, os homens da organização começaram a morrer em emboscadas e atentados a bomba em toda a Europa.


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