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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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POPULAÇÃO

Entrada de imigrantes atinge níveis inéditos, formando uma imensa massa pobre e potencialmente explosiva

EUA enfrentam "bomba demográfica"

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A entrada de novos imigrantes nos EUA deve bater um novo recorde neste ano, atingindo a casa de 1,5 milhão de pessoas.
No final de 2003, cerca de 12% dos 290,3 milhões de americanos serão compostos de pessoas nascidas fora do país -são quase 35 milhões de habitantes.
O ritmo atual da imigração nos EUA, já caracterizado como uma ""bomba demográfica", não tem precedentes na história, seja em termos absolutos ou relativos.
Vistos como uma questão explosiva, de consequências imprevisíveis, ou como um patrimônio em um planeta que envelhece rapidamente, sobretudo nas economias dos países desenvolvidos, os imigrantes estão transformando os EUA e criando vários novos desafios.
A até então considerada ""grande onda" migratória para os EUA havia ocorrido no início do século passado, entre 1900 e 1910. No período, o número de habitantes que não haviam nascido no país aumentou em 31%.
Nos anos 90, esse número foi superado de longe. A população de habitantes dos EUA nascidos fora cresceu 57%, saltando de 19,8 milhões para 31,1 milhões em 2000.
Hoje, os EUA têm o triplo de imigrantes que tinham nos anos 70 e o dobro do verificado nos anos 80, segundo o Centro de Estudos da Imigração (CEI), órgão independente com maior autoridade no assunto.
Atualmente, 60% do crescimento anual da população norte-americana é originado por novos imigrantes ou pelo nascimento de filhos dos estrangeiros já estabelecidos no país.
Mais de um quarto dos cerca de 33,5 milhões de imigrantes vivendo nos EUA é de ilegais, que chegam a um ritmo ""líquido" (descontando mortes e legalizações) de 500 mil ao ano.
Os cerca de 9 milhões de imigrantes ilegais no país praticamente não têm acesso à saúde pública e alguns Estados ameaçam agora proibi-los de colocar seus filhos em escolas públicas.
Os ilegais, e também boa parte dos já legalizados, praticamente não têm poupança ou proteção previdenciária. Assim, criam uma nova geração de americanos que frequentam péssimas escolas públicas nas grandes cidades e que dificilmente chegarão a uma universidade.

Explosão de problemas
""Os EUA estão diante de uma escolha-chave. Integrar os imigrantes e criar uma nova força na sociedade ou esperar pela explosão de seus problemas", diz Stephen Klineberg, sociólogo da Rice University, do Texas, considerado hoje o grande especialista em imigração no país (leia entrevista na página seguinte).
Os problemas, no entanto, já estão presentes e são crescentes.
Estudo realizado pelo Conselho Nacional de Pesquisas (CNP), órgão da Academia Nacional de Ciência dos EUA, revela que os imigrantes americanos causam um déficit fiscal de até US$ 22 bilhões por ano ao país.
O valor equivale à diferença entre o que os imigrantes (legais e ilegais) pagam em impostos e o que consomem em serviços públicos nos EUA.
Na Califórnia, o Estado com maior número de imigrantes, os ilegais chegam a custar cerca de US$ 3 bilhões ao ano.
Steven Camarota, diretor de pesquisas do CEI, aponta os três principais motivos do crescente déficit fiscal causado pelos imigrantes: eles têm mais filhos que a média da população e por isso consomem mais verbas de educação; são mais pobres e recebem a maior parcela da transferência de renda; e pagam menos impostos por ganharem menos.
Pesquisa realizada pela Federação Americana de Consumidores, com dados do Fed (o banco central dos EUA), revelou que a riqueza média acumulada entre as famílias hispânicas, por exemplo, é de US$ 11,4 mil, contra US$ 86,1 mil da média de todas as famílias americanas.

Salários aviltados
Outro estudo, do CNP, mostra que os imigrantes, especialmente os ilegais, estão aviltando os salários de profissões menos qualificadas nos EUA.
Nos últimos 15 anos houve uma queda de 44% na média dos salários dos americanos que abandonam os estudos antes de completar o equivalente ao ensino secundário no Brasil.
A conclusão é que, para competir com os imigrantes, os americanos nativos foram obrigados a se sujeitar a ganhos menores.
Segundo Kevin O"Neill, pesquisador do Instituto de Políticas Migratórias, apesar de causarem distorções salariais, os imigrantes são hoje ""absolutamente críticos" para a economia americana.
Os imigrantes estão hoje na base de setores altamente aquecidos, como a construção civil, e continuarão constituindo, no futuro, uma força de trabalho ainda jovem para o país.
Projeções feitas por demógrafos da Universidade de Michigan com base em dados das Nações Unidas e do Censo americano indicam que a média de idade da população dos EUA em 2050 será de cerca de 35 anos, principalmente por causa dos imigrantes e de seus filhos. Na Europa, a média de idade atingirá 52 anos.


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