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Indianos celebram libertadores como heróis nacionais
Policiais que morreram em serviço tem funeral multitudinário, e cidade vive clima parecido ao dos EUA após o 11 de Setembro
Especialistas, porém, fazem críticas à atuação das forças
de segurança no combate aos terroristas que tomaram Mumbai desde quarta-feira
DO ENVIADO A MUMBAI
Em contraste com a longa
operação de 62 horas para render uma dezena de terroristas,
Mumbai levou menos de 24 horas para ser coberta com outdoors que celebram "os heróis
do conflito". Nas principais
avenidas, os cartazes gigantes
trazem as fotos dos três diretores dos comandos antiterroristas mortos em confronto. "Aos
nossos heróis, muito obrigado."
No que já é chamado de "11 de
Setembro indiano", também
não faltam manifestações espontâneas de reverência às forças de segurança, como pequenas cartolinas na entrada de casas humildes na periferia de
Mumbai que também homenageiam os heróis.
Ontem, milhares de pessoas
participaram do funeral do major Sandeep Unnikrishnan e do
chefe da unidade antiterrorista
de Mumbai, Hemant Karkare.
Uma longa procissão seguia
uma foto gigante de Karkare
até o crematório de Dadar.
Os dois hotéis onde os terroristas se atrincheiraram estavam isolados ontem por cordões de segurança e soldados.
Centenas de pessoas se aglomeravam ao redor do Taj Mahal, o hotel mais famoso do
país, cenário de diversos musicais de Bollywood. Elas tiravam
fotos, aplaudiam e abraçavam
soldados dos comandos da
Guarda de Segurança Nacional.
Segundo a agência de notícias France Presse, os soldados
resgataram 610 pessoas dos
dois hotéis e do centro judaico
tomados pelos terroristas.
O clima parecido ao pós-atentado nos Estados Unidos
também é sentido até em pequenos hotéis, onde foram instalados detectores de metais
por todas as partes. Boa parte
do comércio local, inclusive
shoppings e mercadinhos, ainda estava fechada ontem.
Em mais de vinte andares do
hotel Oberoi, onde mais de 200
hóspedes ficaram sitiados, as
vidraças se encontram em cacos, como se o prédio tivesse sido metralhado de cima a baixo.
Apenas ontem parte dos telespectadores da zona sul de
Mumbai puderam ver imagens
do cerco aos hotéis e do drama
dos reféns. Em uma decisão
controversa, a direção da polícia ordenou aos operadores da
TV a cabo local tirar do ar os
cinco canais de notícias que
transmitiam ininterruptamente a operação terrorista.
"Os tiros dos terroristas e as
explosões criaram sentimento
de pânico e a transmissão se
provou um impedimento para
a ação policial", explicou em
nota o departamento policial.
Blogs e a rede social Twitter,
de blogs com textos curtos, furaram o blecaute informativo e
começaram a passar o cotidiano mais assustador das vítimas,
que era contado pelas próprias
por celulares. Elas narraram
que os terroristas escolhiam a
esmo a cada meia hora qual seria o próximo refém a morrer.
Fracasso policial
Ao contrário do 11 de Setembro americano, já há críticas à
atuação policial e do governo.
"Estamos diante de um grande
fracasso, tanto do serviço secreto, quanto de nossa segurança. Como três chefões da
polícia antiterrorista vão para
um mesmo lugar juntos e são
mortos juntos? Que protocolo
inexplicável é esse?", disse à
Folha Naresh Fernandes, diretor da Paprika, uma das principais editoras do país.
Os chefes da força de segurança foram alvejados pouco
após entrar em uma van da polícia. Os três retiraram os capacetes e os coletes antibala pouco antes do ataque.
Fernandes, cuja família é da
ex-colônia portuguesa de Goa,
trabalhava em um prédio vizinho às Torres Gêmeas e dali
presenciou o 11 de Setembro.
Ele vê diversas diferenças. "Na
Índia, estamos nos acostumando ao terrorismo, todo ano há
ataque. Mas este é o primeiro
em que a elite sofre mais, talvez
a segurança melhore".
Colaba, onde ocorreram os
ataques, é um bairro de luxo para os padrões indianos. Ao contrário de Colaba, que ontem tinha várias ruas fechadas ao
trânsito, nos bairros populares
de Mumbai, a vida já quase voltou ao normal - com centenas
de pessoas comendo e dormindo nas calçadas, crianças trabalhando na reciclagem de pneus
velhos e camelôs vendendo cópias piratas de best-sellers
americanos no trânsito.
(RJL)
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