São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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Punição de Saddam divide especialistas

Execução intensifica debate sobre castigo e seu impacto político; vários governos, incluindo o brasileiro, condenam pena capital

Grupo de direitos humanos questiona legitimidade e transparência do processo; neoconservador não vê risco de aumento da violência


FELIPE SELIGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A iminência da execução do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein intensificou o debate entre juristas, analistas e autoridades internacionais sobre a legitimidade da decisão da Justiça Iraquiana e seus efeitos políticos num país conflagrado.
Para Reed Brody, conselheiro jurídico da Human Rights Watch (HRW), a decisão não é legítima. "O processo jurídico não foi justo, a independência e a imparcialidade do tribunal não foram respeitadas e não existiu igualdade", disse Brody à Folha. "Julgamentos de um ex-ditador servem para fazer acertos de contas históricos. Mas servem também para mostrar que, mesmo tendo feito enormes barbaridades, ele terá um julgamento justo."
O conservador americano Reuel Gerecht, ex-analista da CIA (agência de inteligência dos EUA) para o Oriente Médio, discorda. "Executar um dos piores ditadores da história é sempre uma coisa boa", disse à Folha por e-mail. Gerecht não crê que a morte do ex-ditador terá impacto na violência iraquiana ou nas relações entre EUA e União Européia -contrária à pena de morte. "Os europeus têm mais coisas a fazer que protestar contra a punição do carniceiro de Bagdá", disse.
Vários países, incluindo o Brasil, protestaram contra a execução. "Todos os ditadores devem responder por seus crimes, mas não posso respaldar este tipo de condenação", disse o premiê espanhol, José Luis Zapatero. Países do Oriente Médio, como Turquia, Líbia e Iêmen, pediram a suspensão da execução.
Para Osama Silbani, editor da revista "The Arab American News", endereçada à comunidade árabe dos EUA, a morte de Saddam aumentará a violência no Iraque. "A execução pode trazer a sensação de dever cumprido ao governo Bush, mas não ajudará o povo iraquiano", disse Siblani.

Com agências internacionais


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