São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

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Partido pró-Índia lidera disputa em Bangladesh

País vota após 2 anos em estado de emergência

CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO

A coalização centro-esquerdista liderada pela LA (Liga Awami), secular e pró-Índia, lidera as apurações em Bangladesh, que foi às urnas ontem, após dois anos sob estado de emergência. Resultados preliminares apontam uma vitória esmagadora: a coalizão conquistara 175 assentos parlamentares -96 das 300 vagas permaneciam em disputa.
Os números, não oficiais, são contestados pelo PNB (Partido Nacionalista de Bangladesh), maior rival da LA. Se confirmado, o resultado levará ao governo a ex-premiê Sheikh Hasina. Filha e herdeira política do primeiro presidente de Bangladesh, ela escapou do massacre de sua família em 1975 e lidera a LA desde 1981.
Hasina e a também ex-premiê Khaleda Zia, viúva do fundador do PNB, alternaram-se no poder nos últimos 15 anos e tornaram-se vizinhas de cela em 2007, quando vários políticos e alto funcionários foram presos por corrupção, em campanha do governo interino. Sob pressão de seus partidos, ambas foram libertadas para concorrer às eleições.
Monitorada por 20 mil observadores -2.500 deles estrangeiros-, o pleito de ontem é um dos mais ambiciosos projetos cívicos de Bangladesh. Pobre, politicamente instável, cronicamente corrupto, o país é candidato a "Estado falido" desde a independência, em 1971, quando recebeu do então secretário de Estado americano, Henry Kissinger, o rótulo de "caso perdido".
Com 650 mil policiais e militares nas ruas, urnas eletrônicas, eliminação de eleitores fantasmas dos cadastros oficiais, o pleito tenta tornar viável a democracia em um país freqüentemente paralisado por protestos e golpes.
Pelo sistema eleitoral bengalês, o governo deve renunciar três meses antes das eleições, organizadas por um governo provisório, neutro. O sistema entrou em colapso no final de 2006, com conflitos de rua e boicote da LA às eleições previstas para de janeiro de 2007.
A promessa de reforma eleitoral do governo interino foi inicialmente recebida com otimismo, disse à Folha Charu Lata Hogg, pesquisadora da Chatham House e da Human Rights Watch. "Mas é claro que houve excessos e, após dois anos de um governo que não foi eleito, a expectativa [com o pleito] é muito grande."

Semelhanças
Apesar da polarização e dos confrontos entre seus simpatizantes, as propostas do PNB e da LA são parecidas, explica Hogg. Ambos prometem combater a inflação dos alimentos e o terrorismo islâmico, além de defenderem a industrialização. Os dois são seculares, embora o PNB participe hoje de aliança com um partido islamista.
"A principal diferença ideológica diz respeito à relação com a Índia, vista pela Liga Awami como libertadora", diz a analista. Nova Déli apoiou a guerra de independência do ex-território paquistanês.
"Uma vitória da Liga Awami tende a reforçar os laços com a Índia, mas um alinhamento não é automático: os dois países têm questões mal resolvidas na fronteira e disputas sobre o fluxo dos rios", disse Hogg. Nova Déli represou, em 1976, o rio Ganges e planeja desviar água de dezenas de rios que, vindos da Índia, cortam Bangladesh.


Com agências internacionais

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