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Base militar é ilha de riqueza em Porto Príncipe
DOS ENVIADOS A PORTO PRÍNCIPE
Climatizada, jardinada e conectada 24 horas à internet
sem fio, a base brasileira em
Porto Príncipe é uma ilha de riqueza na depauperada realidade das Forças Armadas.
Para ser um dos 1.250 integrantes do contingente brasileiro da Minustah, a força de
paz da ONU, a disputa é grande
entre soldados e oficiais de todo o Brasil. O processo de seleção é exigente e envolve testes
físicos e psicológicos.
Além do salário, há um adicional no valor de quase US$
1.000 no caso de soldados e de
US$ 4.500 no de um coronel.
As posições de comandante
do batalhão brasileiro e, mais
importante, de comandante geral das tropas da Minustah (que
reúnem 17 países) estão hoje
entre as mais prestigiadas na
estrutura militar brasileira.
"Esta realidade aqui você não
encontra em nenhum batalhão
no Brasil", diz o coronel João
Batista Bernardes, comandante do Brabatt (nome do batalhão brasileiro).
São 120 mil m2 (11 campos de
futebol) de uma estrutura sem
luxo, mas confortável. Soldados dormem em contêineres
convertidos em quartos coletivos, onde foram colocados beliches. Oficiais têm uma área especial, com pequenos jardins
na porta, que ganhou o apelido
de Pétionville, em referência
ao único bairro de Porto Príncipe que pode ser definido como de classe alta.
O "rancho" é rico e variado,
para ajudar a manter elevado o
moral da tropa em um ambiente adverso e longe da família.
No café da manhã, há pão,
queijo, leite, frutas e cereais.
No almoço e jantar, arroz, feijão, farinha, batata, carne, verduras, macarrão e sobremesa.
Em nada parecido, portanto,
com a penúria enfrentada por
quartéis que já tiveram que
operar em meio expediente por
falta de comida. "Esta não é
uma prioridade apenas do
Exército, é uma prioridade de
governo", explica Bernardes.
O governo já gastou R$ 700
milhões com a Minustah desde
seu início, em 2004. A ONU
banca algumas despesas, como
alimentação, mas o governo
brasileiro complementa o que
é insuficiente, como a carne.
Em ocasiões especiais, como
na troca de contingente, é oferecido um churrasco. Mas é
proibido o consumo de álcool.
A rotina de exercícios, treinamentos e patrulhas (mais recentemente, também de distribuição de alimentos) é rígida.
Cada integrante serve por seis
meses, com apenas 15 dias de
folgas para ver a família.
Mas há compensações difíceis de imaginar num pelotão
brasileiro. A base tem internet
sem fio, loja de conveniência
com chocolates e charutos, sala
de jogos e campo de futebol.
Há ainda uma igrejinha e atividades culturais, como uma
roda de berimbau. Aos sábados,
a área em frente ao portão
principal abriga a famosa "feirinha do Brabatt", em que haitianos vendem artesanato, bugigangas em geral e roupas usadas -algumas, doações vindas
do exterior que acabam abastecendo um mercado negro local.
A estrutura é considerada
tão boa que o Exército brasileiro vive oferecendo hospedagem para outros contingentes.
Na semana passada, abrigou
um grupo de uruguaios.
Em volta da base, dezenas de
haitianos se concentram todos
os dias, esperando a chance de
fazer um bico, conseguir um
emprego ou oferecer uma corrida de carro ou moto.
Muitos falam português,
após aulas oferecidas pelo batalhão. Mas, para outros, a sala
de aula é um morro atrás de um
dos altos muros da base, onde
passam horas conversando
com os sentinelas de plantão.
(FÁBIO ZANINI E LUIS KAWAGUTI)
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