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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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ANÁLISE

Para os EUA, guerra seria mescla dos ataques de 1991 e 2001

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os generais sempre lutam de acordo com sua última guerra", diz um ditado comum entre historiadores militares. A França foi derrotada em 1940 porque achava que a guerra seria como a de 1914. Os EUA estão tendo contratempos porque acharam que a atual guerra seria um misto da Guerra do Golfo de 1991 com o ataque ao Afeganistão em 2001. Os iraquianos não se renderam em massa, como em 91; as forças dos EUA não têm aliados locais como tinham no Afeganistão; e, principalmente, as forças empregadas são bem menos poderosas do que na retomada do Kuait.
A liderança militar americana nega que se esteja fazendo uma "pausa" nas operações militares, notadamente no avanço a Bagdá, e continua afirmando que as tropas na região são suficientes para vencer a guerra. É parte verdade, parte propaganda.
Há de fato uma pausa nas operações terrestres, que está sendo usada pela aviação para atacar as unidades da Guarda Republicana que defendem Bagdá. A "pausa", portanto, não se refere à aviação, embora se aplique aos tanques e infantes -que são, afinal, quem toma de fato o terreno.
A revista "New Yorker" está revelando na edição que chega hoje às bancas que Donald Rumsfeld, o secretário da Defesa, recusou várias vezes o pedido de assessores para aumentar o tamanho da força empregada no Iraque.
Rumsfeld teria também recusado o pedido do general Tommy Franks de só começar o ataque depois que as tropas que deveriam partir da Turquia estivessem disponíveis para uso no Kuait.
O autor do artigo, o jornalista Seymour Hersh, tornou-se famoso por revelar o chamado massacre de My Lai, quando mais de 300 habitantes dessa aldeia vietnamita foram mortos por uma companhia do Exército dos EUA.
Rumsfeld continua dando declarações confiantes. Mas generais no teatro de operações, sem se identificar, têm declarado que a guerra precisaria ser "reiniciada", segundo relato de Rick Atkinson, do "Washington Post".
Atkinson, autor de um livro sobre a Guerra do Golfo, relata que há mesmo discussões sobre esperar semanas para um ataque à Guarda Republicana, que seria "amaciada" pela aviação do mesmo modo que no conflito de 91.
Em vez dos 2.000 tanques Abrams que havia em 91, os EUA hoje devem ter no máximo 400, dos quais 250 na 3ª Divisão de Infantaria (não foram divulgados números precisos).
O impasse atual está dando razão aos estrategistas que sugeriam uma força de ataque mais poderosa. Anthony Cordesman, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington, escreveu em dezembro de 2001 que os EUA deveriam enviar uma força avassaladora para vencer rapidamente "e deixar os críticos e analistas reclamarem depois da ineficiência e força excessiva".

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