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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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ANTIGUERRA

Ministros de Lula e artistas dividem palco, mas não atraem grande público ao Ibirapuera

Gil leva 30 mil a "protesto-show" em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto o ministro Gilberto Gil cantava "A Paz", seis pombas brancas foram soltas das mãos das autoridades que ocupavam o palco montado na praça da Paz, no parque Ibirapuera, às 12h40 de ontem. Encimando o palco, a frase "São Paulo contra a guerra"; no palco, além do ministro Gil, da Cultura, Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e José Graziano, da Segurança Alimentar e Combate à Fome. E mais a prefeita Marta Suplicy, vaiada no início e aplaudida no final, o senador Eduardo Suplicy, José Genoino, o presidente do PT, deputados e artistas.
A Guarda Civil Metropolitana estimou o público em 30 mil. Apenas razoável para um domingo de sol que teve, além de Gil, Chico César, João Suplicy e o grupo de rap 509-E. No ano passado, por exemplo, Caetano Veloso atraiu 120 mil pessoas em show gratuito no local. No entanto o parque nunca viu tantas bandeiras brancas e vermelhas, muitas com a foice e o martelo, retratos de Che Guevara e o de George W. Bush com o bigodinho de Hitler.
"A paz começa na célula da família", discursou a atriz Eliana Guttman. "A arte e a guerra não combinam", protestou o ator Tadeu Di Pietro, ao lado de Maria Cândida, que, só acenando e sorrindo, ganhou mais aplausos. As falas dos políticos, sindicalistas e militantes foram contra a guerra, sem poupar a truculência do ditador Saddam Hussein.
Sob uma árvore com a bandeira vermelha da Liga Bolchevique Internacionalista, estudantes distribuíam folhetos criticando o governo Lula. "Quem paga a dívida externa está financiando a guerra", disse Humberto Rodrigues, 25, estudante de história.
Três primos e um amigo desfilavam abraçados com as máscaras de Bush, Bin Laden, Saddam e Arafat. Davidson Santiago, 18, o Bush, está desempregado. Jorge Martins, 16, o Arafat, estuda e procura emprego, o pai é caixa em padaria. André Vinícius, 18, o Saddam, ganha R$ 250 como auxiliar de escritório. Diego Ferreira, 16, o Bin Laden, só estuda.
Capão Redondo, onde moram, é um dos bairros mais violentos de São Paulo. "A guerra está lá perto de casa", disse Santiago.

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