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Cúpula árabe apoia rechaço à prisão de Bashir
Manifestação a favor de ditador sudanês, que teve prisão pedida pelo TPI, é raro consenso em bloco rachado
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DOHA
Sem esconder as muitas divergências que os separam, os
países da Liga Árabe tiveram
ontem em Doha um raro momento de consenso ao apoiar o
ditador do Sudão, Omar al Bashir, e rejeitar a ordem de prisão
emitida contra ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
A mesma solidariedade será
solicitada hoje aos líderes sul-americanos, durante a reunião
de cúpula com os países árabes,
que ocorrerá também na capital do Qatar. A presença de Bashir em Doha, em desafio à denúncia por crimes contra a humanidade, cria um constrangimento ao Brasil e outros países
da região signatários do TPI.
A declaração final da cúpula
estabelece um grupo para buscar o indiciamento de responsáveis por crimes de guerra na
recente ofensiva israelense em
Gaza. Além disso, dá um ultimato, advertindo que a Iniciativa de Paz Árabe de 2002 poderá
perder efeito se Israel não se
mostrar disposto a negociar.
Parcialidade
Recebido em Doha com todas as honras pelo emir do Qatar, Sheik Hamad bin Khalifa al
Thani, Bashir teve ontem o
apoio que buscava na cúpula
anual da Liga Árabe. Seus
membros acusam o TPI de parcialidade ao indiciar o Sudão,
mas não os autores de supostos
crimes cometidos nos territórios palestinos e no Iraque.
O ditador da Síria, Bashar al
Assad, deu o tom do apoio a
Bashir com o discurso que
abriu a cúpula árabe. "O que está acontecendo com o Sudão é
mais um capítulo dos esforços
para enfraquecer os árabes. E
mais uma etapa no esforço para
destruir o Sudão", disse.
Antes de ganhar a palavra,
Bashir passou por um mal-estar, quando o secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, criticou
com veemência a decisão do
Sudão de expulsar 13 organizações humanitárias internacionais da região de Darfur depois
da emissão da ordem do TPI.
"Estou extremamente preocupado com a decisão do governo de expulsar organizações
humanitárias e de suspender
outras que garantem a sobrevivência de mais de um milhão de
pessoas", disse Ban.
Mas Bashir, que é acusado
por crimes na região de Darfur,
onde a ONU estima que cerca
de 300 mil pessoas morreram
desde 2003, manteve-se desafiador. Agradeceu o apoio dos
países árabes e pediu o cancelamento do mandado de prisão.
Dentro da Liga Árabe há divisões entre os que são a favor do
cancelamento e os que preferem sua suspensão por um ano.
"Somos contra o indiciamento de Bashir, mas queremos
que a suspensão ocorra no
Conselho de Segurança da
ONU", disse à Folha o secretário-geral da Liga Árabe, Amr
Moussa, mencionando um mecanismo no organismo da ONU
que permitiria congelar o indiciamento por um ano, e que poderia ser renovado.
Dos 22 membros da Liga
Árabe, só 3 são signatários do
TPI -Jordânia, Comoros e Djibuti-, portanto com obrigação
de cumprir o mandado de prisão contra Bashir. Uma das
tensões surgidas na cúpula foi
causada pela exigência do Sudão de que eles se retirem do
TPI, o que foi rejeitado.
Logo no início da cúpula, o
ditador líbio, Muamar Gaddafi,
rompeu com qualquer ilusão
de unidade árabe. Inconformado por não ter o direito de falar,
atacou o rei Abdullah, da Arábia Saudita, um antigo desafeto, e abandonou o salão de conferência. Mais tarde, os dois se
reuniram, mas a imagem de
união que a cúpula tentou projetar já estava em pedaços.
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