São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA

Depois de amanhã, EUA decidem se Bush ou Kerry será o seu próximo presidente

Radicalmente divididos americanos vão às urnas

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Rachados ao meio e com expectativa de comparecimento recorde às urnas, os norte-americanos votam depois de amanhã para escolher seu presidente para os próximos quatro anos. Disputam a primazia de dirigir a nação mais poderosa do planeta o republicano George W. Bush, 58, e o democrata John F. Kerry, 60.
Será uma das eleições mais importantes e disputadas da história americana. A dois dias da votação, o país está francamente eletrizado pelo processo e pela expectativa de seus resultados.
Na reta final, uma nova surpresa. A reaparição em um vídeo do inimigo número 1 dos EUA, o terrorista saudita Osama bin Laden, resgatou na memória americana os eventos que mudaram substancialmente o país há três anos.
Com as campanhas entrincheiradas em posições muitas vezes radicalmente opostas e com os ânimos exaltados desde 2000, não são pequenas as chances de republicanos e democratas não acatarem com serenidade o resultado das urnas nesta eleição.
Um resultado apertado como o de 2000 pode desencadear uma batalha judicial sem precedentes. Desta vez, há pelos menos oito "Flóridas" em potencial.
Centenas de advogados dos dois partidos já estão a postos em vários Estados para enfrentar a "tempestade perfeita" em que pode se transformar esta eleição.
Com as últimas pesquisas indicando um empate entre Bush -o 43º presidente da história americana- e Kerry, um resultado claro e incontestável dependerá muito do número de pessoas que sairá de casa para votar. Nos EUA, o voto é facultativo.
Mais de 10 milhões de novos eleitores se registraram para votar em 2004, elevando o total de possíveis votantes a 143 milhões, um recorde histórico. Até terça, 25% dos eleitores terão votado, antecipando processo que envolverá 2 milhões de funcionários em 200 mil seções eleitorais.
Refletindo os ânimos acirrados, cada candidato tem hoje o apoio de 90% dos eleitores de seu próprio partido. Nunca tanto dinheiro foi despejado em uma campanha e nunca uma eleição aglutinou tantos eventos importantes.
O pleito de terça-feira será o primeiro desde o 11 de Setembro e a invasão do Iraque. A última vez que os americanos votaram em tempos de guerra foi em 1972, durante o Vietnã.
A atual campanha foi uma das mais hostis da história americana, com ataques pessoais diários e marcada por golpes baixos, acusações, mentiras e exageros em anúncios de TV e em três debates.
Na campanha, Bush tentou compensar suas fraquezas ressaltando sua maior força, a confiança que a maioria dos americanos deposita nele como comandante-em-chefe das Forças Armadas.
O presidente explorou o 11 de Setembro à exaustão, vestiu uniformes militares e foi ao encontro de sua base religiosa fundamentalista, de onde espera colher milhões de votos que não se apresentaram na eleição passada.
Kerry criticou reiteradamente o que classifica de caos no Iraque. Também enfatizou a fragilidade econômica e questionou a competência da atual administração.
O democrata foi amplamente beneficiado por uma das mais bem sucedidas estratégias de um partido nos EUA, que o ungiu candidato logo no início do ano, algo absolutamente incomum.
A antecipação permitiu uma concentração de forças e recursos que conseguiu equiparar os democratas à imensa e rica máquina eleitoral republicana.
Depois de uma das mais longas campanhas, restam ainda cerca de 5% de indecisos. Está nas mãos deles, no final, o veredicto sobre quem governará os EUA.
Contra Bush, pesam uma economia em crescimento que teima em não criar empregos, uma situação de descontrole no Iraque e a falta de soluções para problemas internos que o 11 de Setembro e duas guerras acobertaram durante o seu mandato.
Sobre Kerry, paira dúvida crucial: se é a pessoa certa para comandar os EUA após o 11 de Setembro e a Guerra do Iraque.

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