São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lei de minério opõe regiões no Peru e provoca protestos

Manifestantes de Tacna, no sul, queimaram prédio e protestaram até no Chile contra projeto que muda distribuição de royalties

Governo chileno ordenou fechamento temporário da fronteira; outras 4 regiões protestam para cobrar mais recursos do governo García

DA REDAÇÃO

Manifestantes do departamento de Tacna, no sul do Peru, incendiaram parte da sede do governo local e chegaram a cruzar a divisa com o Chile para protestar contra a aprovação pelo Congresso ontem de uma lei que muda a distribuição regional de royalties de minérios.
O governo chileno ordenou o fechamento da fronteira, e a polícia do país prendeu ao menos cinco peruanos. Três policiais de Tacna ficaram feridos.
Foi o terceiro dia de protestos no sul do Peru por conta da nova lei de royalties da mineração - a atividade é responsável por 50% das exportações do país- que muda a maneira de calcular os impostos sobre a exploração e também os repasses dos recursos às regiões.
A mudança, apoiada por governistas e parte da oposição, opõe os departamentos de Tacna e Moquegua, porque a nova lei retirará recursos do primeiro para repassá-los ao segundo. Em ambos, a exploração de minérios é feita pela Southern Coopper. Uma das maiores mineradoras do mundo, a empresa, de capital mexicano, pagará impostos proporcionais à produção em cada departamento caso a lei seja aprovada. Hoje 80% fica dos royalties fica com os tacnenhos.
Por isso, os protestos que agitavam Moquegua até a noite de anteontem exigindo a aprovação da lei pelo Congresso -os conflitos deixaram ao menos 71 feridos na terça-feira- agora se transferiram para Tacna.

Onda de protestos
Os problemas no sul, porém, não são isolados. O Peru registrou nas últimas semanas protestos em 5 dos 25 departamentos. Os manifestantes têm uma pauta de reivindicações ampla e localizada, mas a maioria cobra de Lima mais recursos e obras usando como argumento a bonança econômica dos últimos anos -o PIB avançou 8% em média, mas índices de pobreza mal se moveram.
A agitação agrava os problemas do governo do presidente neoconservador Alan García, cuja aprovação nacional não passa de 20% e chega a níveis muitíssimo mais baixos fora da região metropolitana da capital. No sul, a desaprovação chegou a 96% no mês passado.
Os principais protestos nesta semana aconteceram em Cusco (centro-sul), que se opõe a concessões mineiras e também quer mais recursos, e em Cajamarca (noroeste), que exige asfaltamento de rodovias, por exemplo. Nos dois locais, ao menos parte do movimento já aceita negociar com o governo.
Além disso, em um protesto distinto contra a polícia em Nueva Cajamarca, no norte, uma delegacia foi queimada e nove pessoas, feridas.
A tensão é um batismo de fogo para o recém-empossado primeiro-ministro, Yehude Simon, que chegou ao governo dia 10 em meio a outra crise, a do escândalo de corrupção na licitação de lotes petroleiros.
A nomeação de Simon, esquerdista independente, provocou controvérsia já que ele esteve preso por oito anos sob a acusação de terrorismo. Ontem, o premiê afirmou que os manifestantes de Tacna "sentirão o peso da lei". E anunciou a criação de um birô de crises.
O governo também se queixa do uso político dos protestos, que nas regiões unem sindicatos nacionais e políticos regionais e ligados ao partido do ultranacionalista Ollanta Humala, que perdeu a eleição presidencial para Garcia em 2006.
A maior preocupação do governo é que a onda de protestos ofusque a Cúpula de Líderes do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), entre 7 e 11 de novembro.

Com agências internacionais


Texto Anterior: Guerra sem limite: Atentado do Taleban deixa 5 mortos no Afeganistão
Próximo Texto: Rebelde congolês reclama de acordo que permite à China explorar riquezas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.