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Viagem de retorno para o Brasil tende a se tornar "bate e volta"
DOS ENVIADOS AO SURINAME
Para muitos dos 33 brasileiros atacados em Albina que embarcaram ontem em voo da
Força Aérea Brasileira para Belém (PA), o retorno ao Brasil será quase um "bate e volta".
Garimpeiros com quem a reportagem conversou, ainda antes da partida do avião, afirmaram que não têm perspectivas
em suas cidades de origem, das
quais partiram há anos, e que
por isso passarão pelo país apenas para tirar os documentos
perdidos no conflito, voltando
para a região do Suriname em
poucos meses.
Joênio de Sá, 30, fez até um
novo corte de cabelo para chegar a São Luís (MA) e reencontrar sua mãe. Mas diz que a visita durará cerca de dois meses.
Há seis anos ele está em garimpos da região. Há pouco
tempo, conseguiu acumular 1,5
kg de ouro -equivalente a cerca de R$ 75 mil. Mas tudo o que
restou da pequena fortuna -R$
3.600- foi roubado no ataque
na véspera de Natal.
"Vou lá, mas é rápido. Só tirar
documentos mesmo", disse
sorrindo e mostrando os três
dentes de ouro.
Damotilde Oliveira Silva, 39,
tem planos ainda mais curtos
para sua estada no Brasil. Espera chegar a Boa Vista (RR), onde morava, ainda hoje para poder passar o Ano Novo com os
três filhos que deixou, e voltar
ao garimpo em um mês.
Os que ficarão em Paramaribo estão preocupados.
Após uma reunião na noite
de anteontem com membros
da Embaixada do Brasil no país,
alguns deles entenderam que
quem não embarcasse no voo
de ontem deveria deixar o hotel
onde estão alojados e não receberia mais mantimentos -que
em sua maioria estão sendo
fornecidos pelo governo local.
A embaixada classificou a
possibilidade de "absurda" e
disse que continuará a ajudar
quem quiser ficar. A maioria
das pessoas perdeu tudo no
conflito, e tem apenas a roupa
que carrega no corpo.
Com o temor de serem abandonados, garimpeiros comentavam na tarde de ontem que
alguns de seus colegas arriscariam voltar para a área do conflito para cruzar o rio Maroni e
ir para a Guiana Francesa, ilegalmente. Até a conclusão desta edição, a Folha não confirmou essa viagem.
Os que ficaram temem que,
se saírem, perderão o dinheiro
que deixaram com o comerciante chinês que tinha um
mercado em Albina, a quem
apelidam de "China Velho".
Por ter um cofre e seguranças em sua antiga loja -completamente destruída pelo incêndio que se seguiu ao conflito- ele era procurado para
guardar quantias em dinheiro
vivo, conseguidas no câmbio do
ouro retirado do garimpo.
Agora, segundo os brasileiros, ele não pode restituir esses
valores. Alguns afirmaram que
pensam até em ir à Justiça para
reaver o dinheiro.
(JCM e FZ)
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