São Paulo, quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

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Viagem de retorno para o Brasil tende a se tornar "bate e volta"

DOS ENVIADOS AO SURINAME

Para muitos dos 33 brasileiros atacados em Albina que embarcaram ontem em voo da Força Aérea Brasileira para Belém (PA), o retorno ao Brasil será quase um "bate e volta".
Garimpeiros com quem a reportagem conversou, ainda antes da partida do avião, afirmaram que não têm perspectivas em suas cidades de origem, das quais partiram há anos, e que por isso passarão pelo país apenas para tirar os documentos perdidos no conflito, voltando para a região do Suriname em poucos meses.
Joênio de Sá, 30, fez até um novo corte de cabelo para chegar a São Luís (MA) e reencontrar sua mãe. Mas diz que a visita durará cerca de dois meses.
Há seis anos ele está em garimpos da região. Há pouco tempo, conseguiu acumular 1,5 kg de ouro -equivalente a cerca de R$ 75 mil. Mas tudo o que restou da pequena fortuna -R$ 3.600- foi roubado no ataque na véspera de Natal.
"Vou lá, mas é rápido. Só tirar documentos mesmo", disse sorrindo e mostrando os três dentes de ouro.
Damotilde Oliveira Silva, 39, tem planos ainda mais curtos para sua estada no Brasil. Espera chegar a Boa Vista (RR), onde morava, ainda hoje para poder passar o Ano Novo com os três filhos que deixou, e voltar ao garimpo em um mês.
Os que ficarão em Paramaribo estão preocupados.
Após uma reunião na noite de anteontem com membros da Embaixada do Brasil no país, alguns deles entenderam que quem não embarcasse no voo de ontem deveria deixar o hotel onde estão alojados e não receberia mais mantimentos -que em sua maioria estão sendo fornecidos pelo governo local.
A embaixada classificou a possibilidade de "absurda" e disse que continuará a ajudar quem quiser ficar. A maioria das pessoas perdeu tudo no conflito, e tem apenas a roupa que carrega no corpo.
Com o temor de serem abandonados, garimpeiros comentavam na tarde de ontem que alguns de seus colegas arriscariam voltar para a área do conflito para cruzar o rio Maroni e ir para a Guiana Francesa, ilegalmente. Até a conclusão desta edição, a Folha não confirmou essa viagem.
Os que ficaram temem que, se saírem, perderão o dinheiro que deixaram com o comerciante chinês que tinha um mercado em Albina, a quem apelidam de "China Velho".
Por ter um cofre e seguranças em sua antiga loja -completamente destruída pelo incêndio que se seguiu ao conflito- ele era procurado para guardar quantias em dinheiro vivo, conseguidas no câmbio do ouro retirado do garimpo.
Agora, segundo os brasileiros, ele não pode restituir esses valores. Alguns afirmaram que pensam até em ir à Justiça para reaver o dinheiro. (JCM e FZ)


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