São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004


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RECICLAGEM

Gargalo do processo, coleta é a etapa mais indicada para quem planeja entrar no ramo

Indústria ociosa atrai investimentos

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O segredo para o êxito de projetos de preservação ambiental está na sua sustentabilidade econômica, e os negócios que se concretizam nas diversas etapas envolvidas no processo de reciclagem -coleta, revalorização e transformação- são a principal garantia para que esse tipo de iniciativa se desenvolva ainda mais.
É principalmente nas duas primeiras, de acordo com especialistas, que os micro e pequenos empresários podem entrar com mais chances de sucesso.
Com R$ 50 mil nas mãos, inicia-se um pequeno negócio no mercado de PET, que se tem mostrado um dos mais promissores. Com um investimento de R$ 140 mil, por exemplo, é possível montar uma recicladora de plásticos diversos. No caso de uma empresa de reciclagem de papel, que fabrica artigos de polpa moldada -como bandejas para ovos-, a aplicação inicial é de R$ 150 mil.
"O primeiro estágio, e talvez o mais importante hoje em dia, é o da coleta dos materiais, onde está todo o gargalo da reciclagem", diz André Vilhena, 34, diretor-executivo do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem). Segundo ele, o país ainda tem uma grande carência na coleta. "A indústria do reaproveitamento de resíduos, que transforma o material, está cerca de 40% ociosa."
Hermes Contesini, 40, coordenador comercial da Abipet (Associação Brasileira das Indústrias de PET), compartilha da mesma opinião. "Não adianta que se abram novas empresas de revalorização ou de transformação de material a cada dia, pois essas empresas não terão um fluxo de trabalho se a coleta não estiver desenvolvida."

Trilha da reciclagem
Formar uma cooperativa de coleta não despende muitos gastos e pode ser o passo inicial. É importante criar uma rede de catadores responsáveis pelo fluxo do negócio. Estabelecido isso, a etapa seguinte é a revalorização. "Há mercado, há compradores com capacidade de produção, mas o empresário precisa se precaver para conseguir bons fornecedores", alerta Vilhena.
A Utep, empresa que trabalha com pneus há dois anos, optou por ingressar nos dois primeiros estágios da reciclagem simultaneamente. "Nós coletamos e revalorizamos os pneus", conta Ricardo Artioli, 43, gerente administrativo. E a coleta acontece de uma forma muito particular: os pneus vêm até ela, trazidos por concessionárias e entidades que precisam "se livrar" do produto -de maneira ecológica. "Nós até cobramos por isso."
O processo de revalorização dos pneus consiste em triturar e separar três componentes: aço, borracha e náilon. A empresa, que atualmente consome 2.012 pneus por mês, exporta cerca de 40% de sua produção. "O restante é consumido pela indústria brasileira na fabricação de asfalto, pisos, tapetes e solados de borracha." Na análise de Artioli, o investimento deve ser recuperado em cinco anos de atividade.
Outra empresa que começou com a coleta e hoje já expandiu sua área de atuação foi a Tomra Latasa, que, com o apoio da população, formou um sistema integrado de coleta e reciclagem.
Em 1992, a Tomra criou o Projeto Escola, no Rio: os alunos separavam latas de alumínio e, em troca, as instituições recebiam materiais que estivessem precisando, como computadores. Em 2001, a empresa ativou as primeiras máquinas para coleta de latas e de PETs em supermercados.
"As pessoas começaram a reciclar porque era extremamente cômodo", diz José Roberto Giosa, 50, presidente da Tomra Latasa Reciclagem. Hoje as máquinas já estão em outras quatro capitais.
A partir da coleta, latas e PETs seguem para a revalorização e, depois, são vendidas para uma empresa que retransforma o material em latas e garrafas.


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