São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002


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Decisão precipitada pode acabar com sonho

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O sonho do negócio próprio longe da capital paulista só durou seis meses para Vinícius Conrado Ferraccio, 33, e a mulher, Mariângela Couto Oliveira, 28.
A pizzaria que montaram na praia de Canasvieiras, em Florianópolis, ficou aberta durante esse tempo, e eles perderam os R$ 30 mil investidos na empresa.
Ferraccio atribui o fechamento da pizzaria a um problema conjuntural. Essa praia, bastante visitada por argentinos, ficou vazia entre janeiro e março de 2002 por conta da crise no país vizinho. "Esperávamos vender 150 pizzas por dia e chegamos a apenas 39."
É certo que a crise econômica contou, mas não só. Além das turbulências do mercado e dos riscos embutidos na abertura de empresas, outros negócios nos mesmos moldes acabam não vingando por motivos já conhecidos.
Um deles, diz o consultor de carreiras Gutemberg de Macêdo, vem da forma como as cidades são conhecidas, durante passeios. "O turista idealiza a cidade."
Até a ausência de alguns serviços é vista como ponto a favor, sem restrição: "Se a cidade não tem um tipo de negócio não significa que a população precise dele".
O conselheiro de carreira Rubens Gimael, 42, aponta as relações interpessoais como fonte de problemas, se subestimadas. "A maioria dos empreendimentos instalados nas cidades menores tem redes de confiança estabelecidas. É difícil quebrar essas barreiras com o novo negócio."
O retorno do investimento também tem de ser pensado. O gerente de orientação empresarial do Sebrae em Aracaju (SE), Pedro Fiscina, diz que uma vantagem de montar um negócio em cidades como a dele é o baixo custo de instalação. "Quem vem para cá tem de ter paciência para o retorno."
Paciência não falta a Vinícius Ferraccio. Apesar de sua pizzaria em Florianópolis não ter dado certo, ele diz não se arrepender.
Se os negócios ainda não engrenaram, o casal diz que a meta de qualidade de vida já foi alcançada. "Nossos filhos têm vida social, passeiam. A gente fica mais tempo com eles", diz Ferraccio.

Pacto familiar
É difícil compor um perfil de quem muda de cidade para abrir negócio, mas dois casos se destacam: o casal aposentado, que aposta as economias em uma vida melhor, e o casal jovem com filhos, que busca um cotidiano calmo, perto das crianças. Essas características levam a um item importante: o pacto familiar.
"Se a família não estiver comprometida com o projeto, o negócio pode desandar", diz Macêdo.
Essas preocupações estão sendo contabilizadas por Rosa Novo Cesarino, 43, e o marido, que pretendem abrir uma franquia de uma consultoria de RH em Curitiba.
"Conhecemos a cidade como turistas e agora planejamos nossa mudança", diz Rosa Cesarino. Ela conta que os três filhos do casal, com 20, 17 e 14 anos, foram consultados antes da decisão.
"Apresentamos a idéia para eles. Isso é importantíssimo. A mais nova, a princípio, relutou, mas mudou de idéia." (FM)


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