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Busca-se palpite do crítico do euro

Por LANDON THOMAS Jr.

LONDRES - Bernard Connolly, o mais antigo e persistente profeta da catástrofe financeira na Europa, ainda consegue encontrar uma plateia cética.

"A atual política de empréstimos mais austeridade vai causar inquietação social", disse Connolly a investidores e políticos em uma conferência nesta primavera em Los Angeles. Ele argumentou que Grécia, Itália, Portugal e Espanha simplesmente não podem cortar caminho para a recuperação.

"E não se deve esquecer que dos quatro países de que estamos falando todos tiveram guerras civis, ditaduras fascistas e revoluções. Essa é a história", ele concluiu, erguendo a voz acima dos risos nervosos e engasgos que vinham da plateia e dos europeus em seu painel de debate. "E esse é o futuro, se a loucura maligna da união monetária for perseguida e esmagar esses países no chão."

Connolly vinha advertindo há anos que a Europa rumava para o desastre. Como economista da União Europeia no início dos anos 1990, ele ajudou a criar a estrutura da moeda comum. Então foi demitido, após expressar opiniões contrárias.

Hoje, enquanto a crise da dívida europeia que começou na Grécia ameaça engolir até a França, juntamente com Itália e Espanha, a antiga tese de Connolly de que impor uma moeda comum a países tão díspares acabaria em ruína está conquistando uma audiência muito mais ampla.

Os fundos hedge que desejam apostar na ruptura da zona do euro vasculham seus relatórios de pesquisa em busca de visões. Os investidores de longo prazo que escutaram suas recomendações durante uma década para evitar os títulos da Grécia, Itália, Portugal e Espanha estão se felicitando.

E os banqueiros centrais fora da zona do euro estão entre seus leitores mais fiéis.

Em 2008, o governador do Banco Central do Canadá, Mark Carney, citou o britânico Connolly, junto com o muito mais proeminente Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, e o economista Kenneth S. Rogoff, da Universidade Harvard, como dos poucos que previram a crise financeira. Mervyn A. King, o governador do Banco da Inglaterra, foi mais veemente sobre os problemas da zona do euro e também é um antigo seguidor.

Nicolas Carn, um analista de pesquisas independente e administrador de fundos em Londres, é um dos maiores fãs de Connolly. "Bernard me influenciou muito", disse Carn. "Ele moldou minhas visões sobre a Europa e contribuiu muito para meu desempenho nos investimentos."

É claro que Connolly não foi o único analista que levantou advertências precoces sobre o projeto do euro. Mas poucos continuaram dedicando mais ou menos toda a sua carreira profissional a expor as linhas de falha monetárias da Europa.

Ao contrário de muitos críticos do euro, Connolly, 61, evita a publicidade enquanto opera transações financeiras em Nova York. Ele declinou pedidos de comentários para este artigo. As pessoas que o conhecem dizem que sua hesitação pública também é alimentada por uma ansiedade constante de que as autoridades exerçam alguma forma de vingança.

As origens desse temor, assim como a raiva e a paixão que o impelem, datam de 1995, quando ele tirou uma folga de seu emprego na Comissão Europeia para escrever "The Rotten Heart of Europe" [O coração podre da Europa]. O livro era uma história escorchante do fracasso do antecessor do euro, o mecanismo da taxa de câmbio europeu.

Yra Harris, um corretor na Bolsa de Chicago, citou o trabalho de Connolly como inspiração para os lucros que ele fez vendendo futuros de títulos italianos.

Harris admite que os relatórios de Connolly podem ser difíceis. Na verdade, alguns têm mais de 70 páginas, e citam Hegel e John Stuart Mill. Suas visões também não custam barato: analistas de sua estatura podem pedir até US$ 100 mil por uma série de serviços.

Mas Harris está tão convencido de que as opiniões de Connolly devem encontrar um público maior que ele e um colega se ofereceram para pagar à editora de Connolly US$ 75 mil para reeditar 25 mil exemplares de "Rotten Heart", hoje esgotado.

"Pagarei do meu bolso porque ele foi muito importante para mim", disse Harris. "Cada vez que falo com ele é como se fossem quatro anos em Harvard."

Enquanto os investidores lucraram ao seguir o conselho de Connolly, James Aitken, que trabalhou com ele na AIG Financial Products, diz que a verdadeira paixão do analista é tentar evitar a catástrofe social que ele teme estar logo ali na esquina.

"Ele é angustiado", disse Aitken, que hoje tem um serviço de pesquisas de investimentos, a Aitken Advisors. "Ele vê para onde isto vai e está advertindo contra a tragédia humana."

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