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Tendências Mundiais

A oposição do Iêmen é vítima de seu jogo duplo

Por KAREEM FAHIM

SANAA, Iêmen - Durante anos, o Islah, o maior e mais bem organizado grupo de oposição do Iêmen, fez um jogo duplo na política local, mantendo laços estreitos com o governo do presidente Ali Abdullah Saleh enquanto também cultivava uma rede de seguidores para derrotá-lo.

Hoje, com a crescente probabilidade da saída de Saleh do poder, o Islah teria condições de obter grande votação nas urnas. Mas esse resultado pode ser duvidoso: a estratégia que manteve o partido em alta nos anos de Saleh pode ter minado sua credibilidade.

Assim como a Fraternidade Muçulmana no Egito, o movimento iemenita tem lidado com divisões cada vez maiores enquanto se aproxima do poder.

Dias depois que os líderes do Islah assinaram um acordo que exigia que Saleh entregasse seus poderes executivos em troca da promessa de imunidade, muitos membros do grupo ainda protestavam nas ruas e criticavam o que eles consideram um compromisso inaceitável.

"Isto é política", disse Ali Mohammed al Hadda, um membro do Islah sentado na praça da Mudança, onde manifestantes acamparam durante dez meses pressionando pela renúncia de Saleh. Depois de assinar o acordo, irromperam lutas entre jovens ativistas e membros do Islah.

"As metas da revolução não foram atingidas", disse Hadda. "Nós lhes dissemos que estamos muito irritados."

Durante um período de transição de dois anos que começa com uma eleição presidencial em fevereiro, o Islah vai compartilhar o poder com outros grupos de oposição e o partido governante, em um governo de união nacional. Publicamente, os líderes do Islah descartam qualquer conversa sobre a imposição de uma agenda social religiosa.

Fundado em 1990 por membros da Fraternidade Muçulmana iemenita e poderosos chefes tribais depois da unificação do Iêmen do norte e do sul, o Islah se uniu a Saleh para conter a influência do Partido Socialista. No final da década, o Islah tinha sido transformado em oposição.

Reforçado por uma política de recrutamento altamente eficaz, assim como suas técnicas organizacionais e a provisão de serviços que o governo não fornecia, o Islah tornou-se o maior partido de oposição do país.

Mesmo assim, os eleitores iemenitas negaram diversas vezes um mandato ao movimento. Nas eleições para os conselhos locais em 2006, Saleh superou os islâmicos, que ganharam muito menos assentos do que esperavam. Alguns líderes do Islah levaram seus adversários à vitória, ao endossar publicamente Saleh.

O partido também teve de enfrentar o ressentimento dos iemenitas do sul, que lembram do papel desempenhado pelas milícias islâmicas aliadas ao norte durante a guerra civil de 1994.

Analistas do Iêmen dizem que o futuro sucesso do Islah dependerá em grande parte de como ele administrará sua própria afiliação diversificada, em um partido que inclui membros da Fraternidade Muçulmana, os ultraconservadores chamados salafistas, xeques tribais e empresários.

Tawakkol Karman, o jornalista prêmio Nobel cuja prisão em janeiro ajudou a detonar a revolução no Iêmen, é afiliado à corrente mais moderada do grupo.

Do outro lado está Abdul Majid al Zindani, um antigo mentor de Osama bin Laden que foi chamado de "terrorista global especialmente designado" pelo Departamento do Tesouro dos EUA em 2004. Zindani é o mais importante líder da velha guarda, que observadores iemenitas dizem que ainda detém o poder no partido.

Em março Zindani falou na praça da Mudança. "Um Estado islâmico está chegando!", declarou.

As batalhas internas no movimento se revelam em público. Zindani estava por trás de uma iniciativa para formar os chamados conselhos virtuosos para regular a moral na vida pública.

Membros do Islah se uniram aos protestos em Sanaa este ano, onde seus membros compareceram aos milhares, fornecendo segurança, comida e auxílio médico para o lado pró-democracia.

Isso indicou a ruptura mais forte do grupo com Saleh, mas também levou a acusações de que o partido estava tentando controlar a onda de demonstrações.

Hoje, ativistas políticos que tentam começar novos partidos no Iêmen estão esperando que membros mais jovens do Islah, desiludidos com o partido, considerem sair.

"Conheço muita gente que não tinha problemas com o Islah. Mas eles viram a verdadeira face do Islah na praça", disse Najeeb Ghallab, um pesquisador da Universidade de Sanaa.

Apesar das divisões internas, muitos líderes do Islah garantem que o partido não vai rachar, porque essas divisões são saudáveis em um partido político.

Ali al Ansi, um legislador do Islah, disse: "Há diferentes debates em todo grupo ideológico. O processo formal de decisão é democrático".

Ansi disse que o partido do governo tem esperanças, por seus próprios motivos, de um racha dentro do Islah, mas acrescentou: "Isso nunca acontecerá".

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