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Museu hispânico busca apoio de latinos

Por FELICIA R. LEE

A Sociedade Hispânica da América talvez seja a instituição mais incompreendida de Nova York.

Fundada em 1904 como museu e biblioteca de pesquisas, ela possui obras de primeira grandeza: pinturas importantes de Goya, Velázquez e El Greco, milhares de trabalhos de artes decorativas, e manuscritos, fotos e gravuras importantes. "Retrato da Duquesa de Alba" (1797), de Goya, é um dos destaques. Mas há décadas o museu vem recebendo muito poucos visitantes.

Sua localização em Washington Heights, em Upper Manhattan, é distante de outras atrações de Nova York; sua divulgação vem sendo discreta, e suas galerias não têm ar condicionado. E, embora seu nome sugira uma conexão com o bairro de maioria latina em que se situa, o museu celebra principalmente as culturas da Espanha e de Portugal, não as artes e tradições das terras do Novo Mundo que esses países colonizaram. O público potencial que se encontra quase à porta do museu não tem ido conhecer o lugar.

"Quando você tem algo chamado Sociedade Hispânica, isso confunde as pessoas", explicou Michael Mowatt-Wynn, presidente da Sociedade Histórica Harlem & The Heights. "As pessoas pensam que é um clube social ou esportivo, que é feito de torcedores de futebol ou algo assim."

Para definir melhor a identidade da instituição, seus responsáveis estudam mudar o nome do museu para o de seu fundador, Archer Milton Huntington, herdeiro de uma enorme fortuna ferroviária, além de ter sido estudioso, colecionador e filantropo. "Isso criaria paralelos com outras instituições, como o Morgan ou o Frick", disse Mitchell A. Codding, diretor da Sociedade Hispânica.

O desejo de Huntington foi expor arte e artefatos que captassem "a alma da Espanha", numa época em que o termo "hispânico" geralmente era associado à Península Ibérica, não aos povos da América Latina. Codding falou que, embora o museu tenha aumentado seu acervo latino-americano, não poderá se converter em algo diferente apenas para identificar-se com o bairro em que se situa. "Nossas coleções são nossas coleções", disse Codding. "Estamos adquirindo mais arte latino-americana de um período anterior, que se soma a nosso acervo já existente. Há outro museu que dialoga com essa população, o Museo del Barrio. Não vamos competir com ele. O acervo é diferente. A base de nosso acervo é feita de obras dos grandes mestres e de arte do século 19."

Marjorie Schwarzer, editora do periódico acadêmico "Museums & Social Issues", disse que, para sobreviver, os museus precisam aderir a inovações como exposições interativas e evoluir, se necessário. Deixar de fazê-lo seria arriscado para a Sociedade Hispânica e suas obras-primas. "Elas poderiam ficar como as joias da vovó: admiradas, mas ninguém as usa", ela disse, falando das coleções do museu.

Segundo Schwarzer, outros museus já se reformularam para sobreviver. O Museu Sueco Americano, de Chicago, fundado em 1976, manteve seu foco sobre a imigração sueca mas relacionou à imigração de outros grupos a Chicago.

O caráter insular da Sociedade Hispânica se evidenciou quase duas décadas atrás quando um de seus líderes teria dito que Washington Heights era um bairro de "favelas que não pagam impostos", enquanto outro falou que a sociedade não interagia mais com os moradores locais devido ao "baixo nível cultural" destes.

Esses comentários provocaram ultraje entre os moradores do bairro e algumas lideranças latinas, que incitaram protestos. Mas as relações vêm melhorando constantemente nos últimos anos.

A Sociedade Hispânica espera que um plano ambicioso de renovação e expansão desperte mais interesse pela instituição. "Eles precisam compensar por cem anos", falou Mowatt-Wynn. "Como fazer isso da noite para o dia?"

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