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Arte & Estilo

Fotos comprovam que ele era parte da turma

Gruen viu Bob Dylan estrear o som elétrico em 1965

Por ALEX WILLIAMS

Desde seus tempos de fotógrafo pessoal de John Lennon e Yoko Ono, nos anos 1970, o loft atulhado de Bob Gruen em um complexo de artistas em Manhattan já recebeu as visitas de muitas lendas do rock: Joe Strummer, do Clash, David Johansen, do New York Dolls, e integrantes do Blondie, para citar apenas alguns. Essa figura modesta, sempre vista por trás da câmera, entranhou-se tão profundamente em várias bandas de rock que em alguns casos passou a ser visto como virtual membro das bandas.

Ao longo do caminho, Gruen, fotógrafo autodidata que passou boa parte de sua vida profissional como freelancer vendendo fotos às revistas "Rock Scene" e "Creem", às vezes por apenas US$5 cada, clicou algumas das imagens que ficariam mais famosas no mundo do rock. A mais célebre delas talvez seja a de John Lennon usando sua camiseta "New York City".

"Essa foto é tão pirateada quanto as de Marilyn e Elvis", comentou Gruen. "Eu adoraria algum dia receber uma porcentagem." Mas acrescentou: "Entendo como elogio o fato de sempre roubarem a minha foto."

Ultimamente, porém, Gruen vem recebendo reconhecimento devido de outras maneiras. Aos 65 anos, é ele quem é alvo de fotógrafos, só para mudar a situação. Em setembro Abrams publicou "Rock Seen", um livro de arte que faz uma retrospectiva. Gruen é o tema de um filme britânico feito para a televisão, "Rock 'N' Roll Exposed", com direção de Don Letts, cineasta e membro do Big Audio Dynamite. E Marc Jacobs, velho amigo de Gruen, recentemente dedicou a frente de sua butique em Greenwich Village a uma instalação celebrando a obra do fotógrafo.

"Bob Gruen fez parte do cenário todo do rock, tanto quanto qualquer banda, porque era um daqueles caras de que todo o mundo gostava mesmo", fala Alice Cooper no filme de Letts. "E ele sempre fazia a foto que vendia melhor."

Com seu jeito amistoso, Gruen não parece alguém que tenha rugido com os leões do rock. Mas desde o primeiro momento ele mostrou possuir o dom de testemunhar momentos da história da música. No verão de 1965, usou sua câmera para conseguir uma credencial de imprensa no Newport Folk Festival. Por acaso, foi o show no qual Bob Dylan aderiu à música elétrica -um dos concertos mais dissecados da história do rock. "Foi puro caos", ele contou, aludindo ao momento em que Dylan chocou os fãs da música folk ao ligar uma Stratocaster na tomada. "Eles não entenderam. Depois de anos, percebo que o que ele estava fazendo era uma afirmação: declarando que o rock'n'roll era a música folk da América."

Seu dom para fazer amigos foi útil para Gruen em 1972, quando conheceu Lennon e Ono num evento beneficente no Apollo Theater.

Em pouco tempo, ele já tinha se tornado o fotógrafo que o casal mais procurava quando queria fotos informais mostrando-os brincando ao piano com Mick Jagger ou se aconchegando na cama com o filho deles, Sean. "Bob entendia o que estávamos fazendo", explicou Yoko Ono em um e-mail. "Ele se interessava em fotografar John do jeito que era, quer as fotos vendessem bem algum dia, quer não."

A morte de Lennon deixou Gruen arrasado. Mas ele já tinha se tornado uma raridade: alguém da era hippie que foi abraçado pelas bandas punk emergentes.

Apesar do abismo de gerações, o punk não lhe pareceu tão diferente assim. "Gosto de música que tenha uma mensagem", disse ele. Sua câmera focalizava os momentos íntimos, longe do palco.

"As pessoas me perguntam como faço para ser amigo de tantos músicos", disse Gruen. "Como você faz para virar amigo de qualquer pessoa?"

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