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Pastor polêmico faz sucesso no Brasil

Por SIMON ROMERO

FORTALEZA, Brasil - Os livros de Silas Malafaia, que vendem milhões de exemplares no Brasil, têm títulos como "Como vencer as estratégias de Satanás" e "Lições de um vencedor". O jato particular Gulfstream em que ele voa tem escrito em sua fuselagem "Favor of God", em inglês [Favor de Deus].

Como um evangelizador na televisão, Malafaia, 53, atingiu espectadores em dezenas de países. Ao longo de 30 anos ele reuniu igrejas e empresas pujantes em torno de sua pregação pentecostal.

Ele poderia ter atraído pouca atenção além de seus próprios seguidores se não tivesse entrado na versão brasileira das guerras culturais. Afinal, o Brasil tem líderes evangélicos que comandam impérios maiores.

Mas é Malafaia quem chama mais atenção, com seus ataques verbais dirigidos a uma ampla série de inimigos, que incluem líderes do movimento pelos direitos gays no Brasil, defensores do direito ao aborto e da descriminalização da maconha.

"Sou o inimigo público número 1 do movimento gay no Brasil", disse Malafaia no mês passado em Fortaleza, nordeste do Brasil, onde ele passou a liderar uma de suas autodenominadas "cruzadas", um show que mistura escrituras e canções para 200 mil pessoas.

Antes de subir ao palco, ele descreveu como se tornou cobiçado em programas de entrevistas na televisão como adversário de discussão com líderes gays.

No Twitter, ele tem quase 250 mil seguidores, e em vídeos distribuídos pelo YouTube ataca implacavelmente liberais, jornalistas e líderes evangélicos rivais.

A elite do Brasil está tentando entender a ascensão de uma figura tão polarizadora, e como ela poderá influenciar a política nacional. A revista "Piauí" publicou um artigo este ano sobre a ascensão de Malafaia da obscuridade no Rio de Janeiro, onde cresceu em uma família de militares, ao poder que ele detém hoje.

Por trás de Malafaia, a ampla expansão das igrejas evangélicas nas últimas décadas, especialmente do pentecostalismo, está alterando a política brasileira. (Enquanto o pentecostalismo varia muito, seus preceitos no Brasil incluem cura pela fé, profecia e exorcismo.) Líderes em Brasília devem se consultar com uma bancada evangélica de legisladores.

Cerca de um em cada quatro brasileiros hoje pertence a congregações evangélicas protestantes, e pentecostais como Malafaia estão no primeiro plano desse crescimento. Estudiosos dizem que o Brasil ainda tem o maior número de católicos no mundo, mas hoje também rivaliza com os Estados Unidos por ter uma das maiores populações pentecostais.

Nem todo mundo no Brasil se entusiasma com essa mudança.

Em um ensaio em novembro, a jornalista Eliane Brum escreveu sobre a intolerância demonstrada pelos ateus no Brasil por alguns adeptos das fés de renascimento, descrevendo o que ela chamou de "disputa cada vez mais agressiva por participação no mercado" entre as grandes igrejas.

O ensaio de Brum desferiu uma onda de reações dos pentecostais. As palavras de Malafaia foram das mais cáusticas.

Ele disse que não desejava disputar cargos porque isso poderia comprometê-lo com um determinado partido político, reduzindo a visibilidade e aceitação mais ampla que ele tem hoje.

"Deus me chamou para ser um pastor", ele disse, "e não trocaria isso por um cargo político."

Mas influência política é outra questão. Ele disse que se recusou a apoiar o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora, Dilma Rousseff, uma ex-membro de um grupo de guerrilha urbana.

"Eu disse a ela: 'Não tenho nada pessoal contra senhora. Acho que a senhora é uma mulher inteligente, qualificada'", ele disse. "'Mas como posso votar na senhora se passei quatro anos lutando com o grupo do seu partido que apoia uma lei que beneficia os gays, assim me prejudicando'?"

Quando Malafaia sobe ao palco, ecoa sermões carregados de lições de autoajuda e perseverança.

Enquanto ele afirma que não é um milionário, não se desculpa por sua própria ascensão material. Na verdade, ele a comemora. Disse que o Gulfstream foi comprado de segunda-mão nos Estados Unidos por sua organização religiosa sem fins lucrativos.

"O papa voa em um jumbo", ele disse. "Mas se um pastor viaja em um jato velho é considerado um ladrão."

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