Iêmen não é mais abrigo para somalis

Por LAURA KASINOF

ÁDEN, Iêmen - Durante duas décadas, somalis que fugiam de seu país encontravam no Iêmen um refúgio seguro, um lugar para trabalhar e uma escala a caminho de países mais ricos do Golfo Pérsico.

Hoje o Iêmen enfrenta sua própria falência como Estado e está longe de ser um refúgio ideal. Mesmo assim, movidos pela fome e a guerra, cada vez mais somalis fazem a perigosa travessia do mar da Arábia. Enfrentam embarcações superlotadas, mares revoltos e contrabandistas de pessoas que não hesitam em atirá-los ao mar se isso for preciso para diminuir a carga de uma embarcação.

Muitos dos milhares de pessoas que chegam aqui todos os meses não têm conhecimento da situação difícil do Iêmen, dos longos meses de revolta popular e decadência econômica, da guerra urbana que já matou dezenas de civis ou do fato de militantes islâmicos terem tomado grandes trechos do país.

"Acabo de ouvir que querem expulsar o presidente e que o Iêmen quer fazer uma revolução", disse Zahra Ibrahim, 29 anos, que deixou seus três filhos com seus pais em Mogadício, a capital da Somália, e pagou US$ 120 a contrabandistas de pessoas para que a levassem ao Iêmen para procurar trabalho."Aqui é melhor que na Somália, mesmo em guerra", ela disse.

Muitos dos refugiados acabam em uma favela de Áden conhecida como Basateen, vivendo em barracos improvisados e fazendo o pouco trabalho que conseguem encontrar. Outros vivem em acampamentos no deserto, perto de Áden. Muitos querem ir à Arábia Saudita, mas não possuem recursos para viajar ou são recusados na fronteira.

Os grupos humanitários contabilizam mais de 200 mil somalis vivendo no Iêmen, mas, com a maioria de seus funcionários estrangeiros tendo sido retirados do país, a ajuda que podem prestar é limitada. O futuro parece sombrio. Os iemenitas não andam contratando empregadas ou lavadores de carros, os trabalhos normalmente reservados aos somalis.