Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

A torcida pelo imposto Robin Hood

Por STEVEN GREENHOUSE e GRAHAM BOWLEY

Ele é conhecido como "imposto Robin Hood" -uma pequena taxação sobre as transações financeiras, que tiraria dinheiro dos bancos para dar aos pobres. E, como o mítico herói da floresta de Sherwood, ele está começando a conquistar o imaginário popular.

Impulsionada pela raiva popular contra os banqueiros, e também pela necessidade dos governos de arrecadar mais, a ideia de criar um imposto global sobre o comércio de instrumentos financeiros tem atraído uma série de paladinos influentes.

Entre os defensores da proposta estão os líderes da França e da Alemanha, os bilionários beneméritos Bill Gates e George Soros, o ex-vice-presidente americano Al Gore e o papa Bento 16.

"Todos nós concordamos que um imposto sobre operações financeiras seria o sinal correto para demonstrar que entendemos que os mercados financeiros têm de fazer sua parte na recuperação das economias", disse a chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel ao Parlamento alemão.

O novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, já anunciou a intenção de criar um imposto sobre certas transações financeiras, e deu aval à ideia de taxar transações de âmbito europeu.

O imposto Robin Hood também se tornou um ponto de convergência entre sindicatos, organizações não-governamentais e o movimento "Ocupe Wall Street".

No mês passado, milhares de manifestantes, centenas deles com trajes de Robin Hood, saíram em passeata no sul da França para pedir aos líderes do G20 que se empenhem mais em ajudar os pobres, o que inclui um imposto sobre transações financeiras.

Gates se reuniu com os líderes do G20, e entre as suas propostas para ajudar os pobres do mundo estava a adoção de uma modesta taxação sobre a comercialização de instrumentos financeiros. Merkel e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, manifestaram seu apoio ao imposto.

Já o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que o seu país só o adotará como parte de uma iniciativa global. As autoridades temem que as operações fujam do mercado londrino para países onde o imposto não existe.

O governo dos EUA diz que o novo imposto poderia prejudicar não só os bancos como também os fundos de pensão e investidores individuais.

Apesar disso, tem crescido o apoio à ideia, que estava praticamente adormecida desde a década de 1970, quando o economista James Tobin, que depois viria a ganhar o Nobel, propôs o imposto pela primeira vez.

"O imposto é uma boa ideia porque os bancos estão onde está o dinheiro - é a mesma razão pela qual Jesse James roubava bancos", disse Rose Ann DeMoro, diretora-executiva da entidade Enfermeiros Nacionais Unidos, de Oakland, Califórnia.

Em 16 de novembro, o Senado francês aprovou um projeto que dá aval ao imposto financeiro. E em Bruxelas a Comissão Europeia diz que gostaria de implementar até 2014 a cobrança de uma alíquota de 0,1% sobre transações realizadas em toda a União Europeia, prevendo que isso resultaria na arrecadação de € 57 bilhões (US$ 77 bilhões) por ano.

No mês passado, no Congresso dos EUA, o deputado Peter DeFazio e o senador Tom Harkin, ambos democratas, propuseram um imposto no valor de 0,03% sobre as transações financeiras. Eles disseram que isso poderia resultar na arrecadação de US$ 350 bilhões em dez anos.

Adversários dizem, no entanto, que o tributo elevaria significativamente o custo das transações. O ministro britânico da Fazenda, George Osborne, descreveu-o como um "suicídio econômico" para a Europa, já bastante fragilizada pela crise financeira.

Em tempos de crise, argumentou, a União Europeia deveria "estar apresentando novas ideias para promover o crescimento, e não para solapá-lo".

Adeptos da ideia observam que o Reino Unido já impõe uma alíquota de 0,5% sobre a compra e venda de ações, enquanto Hong Kong e Cingapura, cujos mercados financeiros crescem rapidamente, cobram impostos de 0,1% a 0,2% sobre o valor de certas operações no mercado. Os EUA tiveram um imposto sobre transações acionárias de 1914 a 1966.

O ator britânico Bill Nighy, que tem vídeos na internet defendendo o novo imposto, diz que se trata de uma bela ideia. "Ele arrecadaria dinheiro suficiente para resolver problemas internos e externos, e poderia fazer isso sem prejudicar as pessoas comuns", disse.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.