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Um filme bancado pelo mundo inteiro

Um filme rodado na Alemanha com verba asiática

Por NICHOLAS KULISH e MICHAEL CIEPLY

POTSDAM, Alemanha - Os operários do estúdio Babelsberg construiam uma favela coreana. Logo ao lado, os americanos Andy e Lana Wachowski, criadores da série "Matrix", filmavam tropas de assalto num cenário de futuro imaginário.

Da sua filiação global ao seu enredo que manipula o tempo, contado por três diretores comandando duas equipes de produção, "Cloud Atlas" é descaradamente esquisito. A narrativa, que começa perto de Nova Zelândia e dá a volta ao mundo, inclui personagens que talvez partilhem uma alma ao longo de seis épocas. E os principais patrocinadores do projeto são da China, Coreia e Cingapura.

Mas "Cloud Atlas" também serve com baliza para o futuro da atividade cinematográfica. Cada vez mais, cineastas outrora dependentes dos estúdios dos EUA recorrem a um financiamento global e independente para os seus projetos mais caros.

"Cloud Atlas", com orçamento de US$ 100 milhões e um elenco com Hugh Grant, Tom Hanks e Halle Berry, é um épico complicado, caro e arriscado demais para um estúdio convencional.

Por isso os produtores desenharam o esboço de uma nova era, em que as produções sejam genuinamente internacionais. Investidores de vários países deram cerca de US$ 35 milhões. Os subsídios alemães representam US$ 18 milhões. A distribuidora Warner Brothers fez apenas um investimento modesto.

"A gente só queria uma forma de conseguir fazer", disse o produtor Grant Hill, "mas acho que essa é a base para um modelo".

Nos últimos cinco anos, até 2010, as bilheterias internacionais tiveram alta de 30%, o dobro do crescimento do mercado dos EUA. E o faturamento de fora dos EUA respondeu por cerca de 70% do total.

E, há três anos consecutivos, o Oscar de melhor filme vai para obras que usam redes financeiras de abrangência global para criarem histórias destinadas a plateias do mundo todo.

Em 2005, Lana (ex-Larry) Wachowski ficou intrigada com o romance de David Mitchell, com seis enredos obliquamente conectados. Um ano depois, ela e o irmão já tinham um roteiro, escrito com a ajuda do codiretor Tom Tykwer. "Após dois anos de trabalho, ainda faltavam 30% [da verba necessária]", disse.

Então os produtores traduziram o roteiro para meia dúzia de idiomas asiáticos, e perceberam que o enredo interessaria possíveis investidores orientais.

"O tema do enredo é o renascimento, e isso vem direto do ideal básico do budismo", disse Michelle Park, presidente da distribuidora coreana Bloomage. Ela descreve os investimentos da sua empresa como "excepcionalmente altos" para os padrões coreanos.

O dinheiro veio de Tony Heo, magnata cingapuriano dos contêineres de navio; do Media Asia Group, distribuidora de Hong Kong que diz ter feito o seu "maior investimento da história numa produção ocidental"; e da Dreams of the Dragon, produtora pequinesa que nunca antes havia investido em uma grande produção.

O advogado Peter Dekom, especialista em entretenimento, disse que os patrocínios díspares dão aos cineastas maior liberdade. "Quanto mais investidores você tem, menos controle você sente da parte de qualquer dos investidores", afirmou.

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