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Glenn Close é sucesso no papel de homem

Por DAVID ROONEY

Um fracasso em conseguir o papel-título foi o início do fascínio que Glenn Close tem há anos por "Albert Nobbs".

A audição foi para a produção feita pelo Manhattan Theater Club em 1982 de "The Singular Life of Albert Nobbs". Adaptado pela dramaturga e diretora francesa Simone Benmussa do conto de George Moore com o mesmo título, a peça relata a vida solitária de uma mulher na Irlanda, no século 19, que se passa por um homem para poder sobreviver.

Os créditos de Glenn Close no teatro, na época, incluíam um papel no musical "Barnum" pelo qual ela tinha sido indicada ao Tony, e ela aguardava o lançamento de seu primeiro longa, "O Mundo Segundo Garp", que lhe daria a primeira de cinco indicações ao Oscar. A atriz ainda não era a figura que ficaria conhecida por "O Reencontro", "Atração Fatal" e "Ligações Perigosas". Seus três Tony e três Emmy ainda estavam por vir.

"Nunca fui muito boa em audições", confessou Close, 64 anos. "No meio da audição eu falei: 'Estou entediando a mim mesma, então devo estar entediando vocês. Acho que vou para casa.'"

"Naquela noite meu agente me disse que o júri achou aquilo a coisa mais interessante daquele dia." Ela voltou para uma segunda audição, na qual foi perfeita. O "New York Times" descreveu sua performance como transformadora.

"Sempre achei que, se conseguisse convencer como Albert, não precisaria fazer nada mais, porque esse papel exige de mim tudo o que já aprendi como atriz para tentar recriar a vida interior de uma pessoa tão silenciosa", falou Close. "Ela é uma pessoa inacabada."

Um filme baseado na peça foi um projeto que despertou a paixão de Glenn Close durante anos. "Albert Nobbs" estreia nos EUA em 27 de janeiro e estreia em vários países europeus neste semestre. As atuações de Close arrancaram aplausos em festivais de todo o mundo.

Em muitos retratos feitos pelo cinema de mulheres que se fazem passar por homens, a inversão de gêneros foi atrelada a um artifício de estilo. Em "Shakespeare Apaixonado", fazia parte da história do "cross-dressing" no teatro. Em "Orlando - A Mulher Imortal", surgiu de um conceito literário fantástico. Em outras obras, como "Transamérica", o travestismo diz respeito à identidade sexual.

Pode-se afirmar que "Albert Nobbs" tem mais em comum com o filme francês "Tomboy", sobre uma garota de 10 anos cujos esforços para se fazer passar por menino se devem menos a uma consciência sexual que a um impulso natural.

"O gênero se torna quase irrelevante, porque o que interessa é o vínculo humano", disse Close. "A coisa da qual mais me orgulho no filme é que você se esquece do que está vendo."

Dirigido por Rodrigo García, "Albert Nobbs" é um drama ambientado na pensão de Dublin onde Albert trabalha há 17 anos fingindo ser um homem. Sua vida de auto-exílio é aberta a novas possibilidades quando, uma noite, ela é obrigada a dividir seu quarto com Hubert, um musculoso pintor de paredes.

Não estamos revelando demais ao dizer que o papel de Hubert é feito por Janet McTeer. Hubert não sente o medo e a vergonha que dominam o mordomo assustadiço. "No interior de Nobbs havia uma garota tão reprimida que só o que ela conseguia pensar era 'esconda-se e sobreviva. Desapareça, funda-se com a parede. Seja invisível'", falou García. "Mas Hubert sabe quem é e o que quer."

As atrizes se basearam em inspirações diferentes. "Eu quis que Hubert fosse muito classe trabalhadora, muito irlandês", falou McTeer. "Uma espécie de viking grandão, com peito forte."

Glenn Close disse que uma das referências que usou para representar o tímido Albert, com seus olhos sempre voltados para baixo, foi uma foto de um artigo sobre as "virgens juradas" da Albânia -mulheres escolhidas para se vestir e viver como homens por suas famílias sem herdeiros do sexo masculino. Close também estudou o palhaço de circo Emmet Kelly, como um vagabundo triste, e Charlie Chaplin. "Com este material, o truque está em ter um toque leve e um senso de comédia", disse ela.

Close, que também é produtora e roteirista de "Albert Nobbs", contou que encontrou um colaborador para o filme 15 anos atrás, o diretor húngaro Istvan Szabo. Iam rodar no início dos anos 2000, mas o financiamento secou.

Ela voltou a tocar o projeto cinco anos atrás, "enxugando-o", disse Close. "O efeito psicológico de fazer 'Albert Nobbs' é uma sensação de um trabalho concluído", disse ela. "Em dado momento, eu me perguntei 'estou disposta a passar o resto de minha vida tendo desistido disto?'. E concluí que não."

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