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Diário de Yangun

ARTE & ESTILO

Uma girl band testa limites de censores e pais

POR THE NEW YORK TIMES

YANGUN, Mianmar - Com sua coreografia sensual e figurinos provocantes, as cinco integrantes da primeira girl band de Mianmar estão ampliando os limites do que é artisticamente aceitável neste país socialmente conservador.

Mas quando seus pais as telefonam, perguntando por que ainda não voltaram para casa às 22h, as meninas da banda voltam correndo para suas vidas de filhas obedientes.

"Vivemos duas vidas distintas", disse Lung Sitt Ja Moon, conhecida sobre o palco como Ah Moon e filha de um pastor batista. "Fazemos o que fazemos sobre o palco e depois voltamos para casa, para nossos pais."

A banda é chamada Me N Ma Girls, uma alusão a "Mianmar girls". Elas enfrentam pais conservadores, um órgão de censura e namorados que acham um ultraje o fato de subirem ao palco em figurinos tão minúsculos.

Mianmar, a antiga Birmânia, está emergindo de anos de isolamento e governo militar ditatorial. À medida que o país vai lentamente descobrindo o caminho de retorno ao mainstream asiático, a velha Mianmar da arte sancionada pelo governo e dos sarongues até os tornozelos está sendo contestada pela perspectiva de mais entretenimento, roupas e estilos de vida de inspiração ocidental.

"As pessoas pensam que, se uma moça veste algo sexy demais, ela não é normal, que ela não presta", explicou Ah Moon.

As integrantes do Me N Ma Girls não se enxergam como rebeldes, mas simbolizam a tendência da geração jovem do país de aderir à cultura pop ocidental.

A banda foi criada pela dançarina australiana Nicole May, que foi para Mianmar três anos atrás e escolheu a dedo cinco mulheres entre as 120 candidatas que responderam a um anúncio.

As garotas do Me N Ma Girls, todas com pouco mais de 20 anos, enfrentam problemas que seriam estranhos para a maioria dos pop stars ocidentais. A eletricidade é cortada com frequência em um dos lugares onde ensaiam. Os censores fazem objeções diversas: no ano passado as integrantes da banda foram proibidas de usar perucas coloridas. Mas o processo é facilitado pelo pagamento de "gorjetas" aos censores.

"A gente se esforça para ser sexy, mas não demais", disse outra moça da banda, Wai Hnin Khaing. As garotas cantam histórias de amor, dor e encontro de moças e rapazes, que são mal recebidas numa sociedade em que os filhos vivem com seus pais até o casamento.

As cinco cantoras são formadas na universidade química, zoologia, matemática, russo e ciência da computação.

Sua fama crescente no setor da música do Mianmar ainda não se traduziu em sucesso financeiro. Há pouco tempo, Lalrin Kimi, cujo pseudônimo é Kimmy, não tinha dinheiro para o ônibus. Mesmo assim, as garotas querem fazer sucesso fora de Mianmar.

"Quero que esta banda fique famosa e seja globalmente conhecida. Quero que chegue até Hollywood!", falou Su Pyae Mhu Eain, cujo pseudônimo é Cha Cha.

As experiências de Cha Cha com um namorado inspiraram uma canção cujo refrão diz "você é mentiroso!". O vídeo da canção foi filmado em Bancoc no final do ano passado. "Eu me senti livre lá", falou Kimmy. "Podíamos vestir o que queríamos. Não precisávamos nos preocupar com os outros."

Enquanto isso, elas querem ensaiar sem interrupções paternas. Num ensaio da banda até depois da meia-noite, outra integrante da banda, Htike Htike Aung, recebeu uma mensagem de texto de sua mãe. "Lembre que você ainda tem pais!" dizia a mensagem. "Ligue para mim, filhinha!".

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