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Um filme aclamado feito por um palestino tenaz

Cinco câmeras quebradas expõem a violência

Por ETHAN BRONNER

BILIN, Cisjordânia - Emad Burnat nasceu na terra e, como gerações de sua família nessa aldeia no topo de uma montanha na Cisjordânia, ganhou a vida labutando o solo rochoso. Seis anos atrás, quando nasceu seu filho, ele ganhou uma câmera de vídeo e, inesperadamente, transformou-se no cronista da aldeia.

Havia muito para registrar. Israel estava construindo um muro de separação em terras da aldeia que incluíam uma parte de sua própria família. O raciocínio era deter os homens-bombas, mas a medida confiscou a maior parte da terra arável da aldeia e permitiu a expansão de um assentamento israelense.

Escavadeiras arrancaram oliveiras centenárias enquanto os colonos chegavam com móveis e casas portáteis. Os aldeões bloquearam o caminho e os soldados os prenderam. Burnat estava lá diariamente, filmando com sua nova câmera.

Trabalhando com um cineasta israelense, Guy Davidi, Burnat transformou seus anos de filmagens em uma história pungente. O filme, "Cinco Câmeras Quebradas", ganhou dois prêmios no Festival Internacional de Cinema Documentário em Amsterdã e participou do recente Festival de Cinema Sundance.

O novo documentário intercala cenas de aldeões combatendo a barreira com as primeiras palavras do filho de Burnat, Gibreel ("cartucho", "Exército"), os agentes israelenses detendo amigos e parentes e a esposa de Burnat suplicando para que ele desviasse sua atenção da política. Durante seis anos, Burnat usou cinco câmeras, todas quebradas durante as filmagens - entre outras coisas, por balas de soldados e um colono irritado. No início do filme, Burnat dispõe as câmeras sobre uma mesa. Elas criam um motivo -o poder de testemunhar. Ele nunca abaixa sua câmera e enlouquece seus adversários.

"Foi uma decisão muito difícil fazer um filme tão pessoal", diz Burnat, 40. "Eu estava pouco à vontade para mostrar a gravação para minha mulher. Isso pode ser normal na Europa, mas aqui na Palestina você tem de responder a muitas perguntas. Até agora eu evitei mostrar o filme aqui."

Davidi, o codiretor israelense, chegou a Bilin em 2005 para gravar um documentário sobre trabalhadores palestinos no assentamento e conheceu Burnat. "Queríamos que nosso filme fosse discreto, que não fosse provocativo ou combativo", disse.

Trabalhar com um cineasta israelense foi polêmico. O movimento palestino promove um boicote de tudo o que é israelense até que haja algum progresso para terminar a ocupação.

Para Burnat, a questão da coexistência é especialmente delicada. No fim de 2008, ele foi gravemente ferido em um acidente de trânsito. Soldados das Forças de Defesa de Israel o levaram para um hospital israelense.

"Se eu tivesse ido para um hospital palestino", disse Burnat, "provavelmente não teria sobrevivido." Três meses depois ele estava novamente filmando.

"A única proteção que posso lhe oferecer", disse Burnat sobre Gibreel, "é permitir que ele veja tudo com seus próprios olhos para poder perceber como a vida é tão vulnerável".

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