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Guerra civil é ameaça crescente na Síria

"Não há muito mais o que qualquer um possa fazer"

Por ANTHONY SHADID

BEIRUTE, Líbano - Um governo tão desafiador quanto sua oposição é desorganizada, o fracasso da Liga Árabe em estancar a violência e uma comunidade internacional com pouca alavancagem: tudo isso deixou a Síria mergulhada cada vez mais fundo em um conflito prolongado, caótico e, possivelmente, inegociável.

Uma proposta de paz formulada inesperadamente pela Liga Árabe, segundo a qual o presidente Bashar Assad entregaria o poder a um vice e iniciaria negociações com seus adversários no prazo de duas semanas, foi rejeitada enfaticamente em 23 de janeiro pelo governo sírio, que a descreveu como violação aberta da soberania síria e prova de uma "conspiração".

No mesmo dia, a União Europeia adotou outra rodada de sanções contra a Síria, apresentando uma lista de pessoas e de empresas afetadas pela proibição de viagens e pelo congelamento de bens.

Porém, a oposição agora vem falando menos sobre as perspectivas de queda de Assad e mais sobre uma guerra civil que, segundo alguns, já teria começado, com o governo perdendo o controle sobre algumas regiões e sua autoridade se enfraquecendo na periferia da capital e em partes de cidades importantes, como Homs e Hama.

"A cada dia que passa, os sírios chegam mais perto de um combate interno", falou um ativista de 30 anos de idade em Arabeen, perto da capital. "Bashar dividiu os sírios em dois grupos -um com ele, um contra ele-, e os próximos dias serão de mais sangue nas ruas."

Ativistas na cidade de Douma, a cerca de 16 quilômetros de Damasco, disseram em 22 de janeiro que, após um dia de choques intensos ali, soldados desertores controlavam três bairros.

Ahmed, um ativista opositor do governo, falou que nas últimas semanas centenas de soldados tinham desertado nessa área. "Se Douma for libertada, isso significará que o próximo ataque será no coração de Damasco", ponderou.

Em Homs, cidade que é descrita como "a Stalingrado da revolução síria", intensificam-se os relatos sobre limpeza sectária, e algumas ruas viraram fronteiras perigosas demais para ser atravessadas.

A Síria ainda conta com o apoio da Rússia e da China no Conselho de Segurança das Nações Unidas. No mundo árabe, ela tem aliados no Iraque e na Argélia.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exortou Assad a encerrar a violência contra os manifestantes. No entanto, um diplomata em Damasco mostrou-se fatalista. "Não há muito mais o que qualquer um possa fazer, no nível internacional", disse. "E também não há muito mais o que a Liga Árabe possa fazer."

Em dezembro, a Síria concordou em autorizar a visita de 165 observadores da Liga Árabe para monitorar um acordo assinado por Assad: uma promessa do governo para encerrar a violência, libertar prisioneiros e retirar os militares das cidades.

Porém, o prognóstico feito pelo secretário-geral da Liga Árabe, Nabil el Araby, foi sombrio. "Temo uma guerra civil. Os fatos dos quais tomamos conhecimento podem levar a uma guerra civil", disse.

Em um hospital militar em Damasco, médicos afirmaram que cerca de 25 soldados feridos estão chegando todas as semanas, além do mesmo número de corpos. Dois soldados mostravam ferimentos que disseram ter sofrido na fronteira com o Líbano. Disseram que seus adversários estavam bem armados e faziam parte de uma "conspiração externa". "Isso vai acabar em breve", disse um deles.

Hwaida Saad e um repórter do "The New York Times" contribuíram de Beirute, e Neil MacFarquhar das Nações Unidas

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