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Dinheiro & Negócios

O esforço de um bilionário irlandês para reconstruir o Haiti

Empresas podem reparar os danos do terremoto de 2010

Por STEPHANIE STROM

PORTO PRÍNCIPE, Haiti - Dois anos depois de um terremoto ter devastado esta cidade, cerca de meio milhão de pessoas ainda vive em barracas imundas, milhares foram contaminadas pela cólera e o presidente trabalha em um escritório improvisado.

Denis O'Brien, um bilionário irlandês impaciente que tem o hábito de falar palavrões, está determinado a mudar tudo isso. Recentemente, ele presidiu a inauguração da escola n° 50 a ser reconstruída por sua empresa de telecomunicações, a Digicel. E prometeu construir mais 80.

Contando com o apoio de seu empreendimento que está presente em todo o Caribe, O'Brien persuadiu, pressionou funcionários do governo e empresários a reconstruir o Haiti.

"Na hora de sair na foto, todo o mundo está presente, mas depois de as câmeras irem embora, cadê as cem casas que foram prometidas? Eu sou o sujeito que vai contar as casas", disse.

O'Brien, 53, virou o embaixador de uma nova abordagem, baseada em empresas, para a reconstrução do Haiti, que há muito tempo é dependente do trabalho de agências humanitárias e ganhou o apelido de país das ONGs.

A Digicel é a maior empregadora e a maior contribuinte do Haiti. A empresa já colocou US$ 600 milhões aqui, tornando-se de longe a maior investidora de todos os tempos no país, e democratizou as comunicações, com a venda de telefones e serviços de telefonia celular de baixo custo.

O Haiti é o maior mercado da Digicel, responsável por cerca de um terço de seus 11 milhões de assinantes na região. "Se você ganha dinheiro em um país pobre, não pode pegar o dinheiro e desaparecer", disse O'Brien. "Isso seria ruim para os negócios."

Por isso, em um fórum em novembro, patrocinado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e que atraiu 500 empresários de 29 países, a Digicel anunciou planos para investir US$ 45 milhões em um novo hotel.

O evento foi lançado com a inauguração de um novo parque industrial em Caracol, cujo primeiro ocupante será a Sae-A, uma empresa coreana de roupas com atuação na América Latina. Sua fábrica vai empregar 20 mil pessoas com alojamentos para os funcionários, diferentemente das operações manufatureiras no Haiti que pagavam salários baixos e deram origem a grandes favelas.

Em dezembro, a cervejaria holandesa Heineken aumentou de 23% para 95% sua participação na cervejaria haitiana Brasserie Nationale d'Haiti.

E os 60 membros da Rede de Ação no Haiti, integrante da Iniciativa Global Clinton, pretendem instalar painéis solares, aumentar o fornecimento de energia e oferecer formação profissional. O'Brien supervisiona o trabalho.

Anne Hastings, presidente da Fonkoze, uma instituição de microfinanças no Haiti que é membro da Rede de Ação, disse: "Ouvi dizer que a Digicel é uma empresa na qual é difícil trabalhar, porque O'Brien cobra muita responsabilidade das pessoas. Mas ele faz isso com um ótimo senso de humor."

Josefa Raymond Gauthier foi a primeira presidente da Fundação Digicel Haiti a supervisionar a construção das escolas. "Cheguei à fundação no fim de 2008 e, de repente, só se ouvia 'precisamos entregar uma escola até março, porque Denis O'Brien está chegando'", contou. "Então Denis chegou e disse: 'Bacana esta escola. Vamos erguer mais 20.'"

A Digicel começou a fornecer treinamento adicional de professores e a pagar seus salários quando o Ministério da Educação atrasava o pagamento ou os contracheques desapareciam.

Denis O'Brien quase faliu quando era jovem. Ele se salvou comprando uma estação de rádio irlandesa que virou parte do que hoje é o Communicorp Group. Em 1990 ele criou a Esat Telecom, comprando a segunda licença de telefonia móvel da Irlanda -e dando origem a especulações de que a licitação tinha sido ganha com a ajuda de favores políticos. Após um inquérito que durou 14 anos, em 2011, um tribunal judicial acusou o ministro do governo que concedeu a licença a O'Brien de ter recebido dinheiro deste, mas O'Brien nega a acusação.

Ele vendeu a Esat em 2000, ficando com algumas centenas de milhões de dólares nas mãos e um sentimento de "tédio absoluto". Ele fez uma oferta de US$ 47,5 milhões pela compra de uma licença de telefonia celular na Jamaica e venceu a licitação, lançando sua empresa de telecomunicações. A revista "Forbes" o situa no 245° lugar na lista dos bilionários do mundo, com uma fortuna estimada de US$ 4,2 bilhões.

Em setembro, O'Brien falou com entusiasmo sobre os planos do presidente do Haiti, Michel Martelly, de financiar o ensino primário gratuito no Haiti, com taxas sobre as ligações de celulares.

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