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Moeda desvalorizada abate economia húngara

Por JACK EWING e PALKO KARASZ

BUDAPESTE - O aposentado Zoltan Zsoter, 80, parece alguém que vive muito distante do mundo da especulação cambial. No entanto, ele é um exemplo de como o sistema financeiro global pode exercer um efeito devastador sobre pessoas comuns.

Zsoter é um entre as centenas de milhares de húngaros que financiaram residências com empréstimos bancários que são saldados em francos suíços ou outras moedas estrangeiras. Empréstimos como esses ofereciam juros atraentes, muito baixos, quando os tempos estavam bons. Mas, então, a moeda húngara perdeu valor, dobrando a prestação mensal que Zsoter pagava.

"Eu vivo de um dia a outro", disse ele. Não tendo conseguido manter o pagamento das prestações, ele hoje desembolsa 40 mil forintes -cerca de US$ 163- de sua pensão mensal de 51 mil forintes para poder continuar a viver em seu apartamento modesto em Budapeste, agora como locatário.

Para quem argumenta que a Grécia poderia reconquistar competitividade se voltasse a usar sua moeda própria, a Hungria é um exemplo que inspira cautela. A teoria é que o dracma perderia valor em relação ao euro, permitindo que os produtos gregos competissem em seus preços com os de países como a Turquia.

E, teoricamente, a desvalorização da moeda deveria ajudar a economia, reduzindo os preços dos produtos húngaros no exterior e diminuindo o custo da mão de obra em comparação com os países vizinhos. No entanto, economistas e empresários dizem que as vantagens da moeda fraca são mais que canceladas por fatores negativos como a alta dos preços do combustível importado ou dos componentes importados usados nas fábricas húngaras, sem falar no aumento do valor dos pagamentos de empréstimos feitos em moedas estrangeiras.

"Seja o que for que você ganhe hoje, sairá prejudicado amanhã", disse Radovan Jelasity, chefe do austríaco Erste Bank.

Muitos críticos afirmam que as táticas de força empregadas pelo primeiro-ministro Viktor Orban também prejudicaram o país. Para eles, a política rígida do premiê agravou os problemas econômicos da Hungria, ao afastar investidores estrangeiros, levar as agências de classificação de crédito a rebaixar os títulos do governo para o nível de "junk", ou lixo, e gerar a uma desvalorização maior ainda do forinte.

Em 17 de janeiro, a Comissão Europeia, temendo que a Hungria possa escorregar de volta ao autoritarismo, iniciou procedimentos legais contra o país que podem resultar em multas pesadas.

Apoiado por dois terços no Parlamento, Orban aprovou uma série de leis que concentraram o poder em suas mãos, enfraqueceram instituições concorrentes, como o banco central, e desagradaram os credores internacionais.

Alguns húngaros têm esperanças de que a pressão obrigue Orban a modificar seu comportamento. Reagindo à ação da Comissão Europeia, Orban disse que vai modificar algumas das leis.

No entanto, poucos acreditam que o premiê ceda o poder facilmente e existe um risco real de a Hungria perder seu status de símbolo da transformação da Europa do leste antes comunista, além de destino apreciado de empresas, como a montadora alemã Daimler, que começará em breve a produzir veículos Mercedes-Benz em uma nova fábrica em Budapeste.

Confrontado com o custo crescente do crédito, o país pode ficar sem dinheiro até maio, se aumentar o ceticismo dos investidores em títulos do governo. Os juros sobre os papéis húngaros de longo prazo subiram para mais de 10% em janeiro, o que constitui mau agouro para o governo, que quer vender mais de US$ 1 bilhão em títulos da dívida até abril.

Mas Peter Oszko, que foi ministro das Finanças no governo anterior ao de Orban, em 2010, disse que a economia húngara ainda está em boa forma. O país possui superavit comercial e sua dívida, de 81% do PIB, está dentro da média da União Europeia.

Mesmo assim, o futuro parece sombrio, com desemprego de 10,7% e inflação em 4,3%. A Hungria também é suscetível aos problemas econômicos da Europa, para onde vai a maioria de suas exportações. "Não prevejo nada de bom vindo dos partidos políticos", disse o aposentado Zsoter.

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