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Casas de penhor vivem boom na Grécia

Por NIKI KITSANTONIS

ATENAS - Com toda a contração da economia grega, desemprego em massa e uma em cada quatro pequenas empresas fechando, pode parecer estranho que novas lojas estejam surgindo como cogumelos em Atenas.

Mas essas lojas -casas de penhor e comerciantes de ouro- prosperam porque os gregos que estão sem dinheiro vendem joias para pagar as contas e os novos impostos. As autoridades relataram uma verdadeira explosão do setor: 90% das 224 casas de penhor oficialmente registradas abriram no último ano.

Enquanto esses empresários insistem em que seus serviços são legítimos, as autoridades gregas afirmam que muitas lojas ocultam um comércio ilícito de ouro em rápida expansão e que grande parte deste está sendo contrabandeado para fora do país, assolado pela dívida fiscal, confundindo os esforços para conter a evasão.

Tendências semelhantes foram registradas em outros países. Nos EUA e no Reino Unido, as economias fragilizadas e o turbilhão nos mercados de crédito ajudaram os comerciantes de ouro a enriquecer. Uma década atrás aconteceu o mesmo na Argentina.

Na Grécia, surgem novas lojas em ruas onde comércios falidos foram fechados com tapume. Concorrendo com antigos penhoristas que trabalham em pequenas lojas, os novos profissionais alugam espaços no centro, aproveitando a queda dos aluguéis. Eles anunciam em jornais e na televisão e espalham folhetos promocionais embaixo das portas e nas vidraças dos carros. Muitos também aceitam carros, lanchas e imóveis de gregos que não podem mais bancar estilos de vida requintados.

Muitos joalheiros aderiram, colocando placas em suas vitrines que dizem "Compro ouro". Embora a maioria dos negociantes relute em falar, alguns dizem que estão apenas aproveitando uma oportunidade criada pelos tempos difíceis e pelo alto preço do ouro - aproximadamente US$ 1.600 a onça [cerca de 28 g].

"O ouro é forte, por isso há grande interesse em vender", disse Yiannis Spiratos, gerente de uma casa de penhor em Atenas.

Ele disse que oito em cada dez clientes vendem seus produtos diretamente. "Alguns vendem suas joias porque não as usam; muitos dizem que precisam do dinheiro para pagar o imposto de emergência", disse ele, referindo-se ao novo imposto sobre propriedades.

Uma cliente bem vestida de meia-idade disse que tinha acabado de vender brincos e o relógio de ouro de seu marido. "Ele não conseguiu fazer isso, ficou envergonhado", disse a mulher, que obteve US$ 1.500 com a venda.

Com um número crescente de gregos considerando vender suas joias ou bens de família, a agência de proteção ao consumidor do país publicou recentemente diretrizes para proteger as pessoas de negociantes inescrupulosos. Ela adverte contra negociantes que prometem preços especialmente altos e aconselha os consumidores a pesar suas joias em casa ou mandar avaliá-las em um laboratório da associação nacional de ourives.

"A crise é uma oportunidade para muitos e tudo bem desde que seja legal", disse Nikos Lekkas, diretor de inspeções da Unidade de Crimes Financeiros e Econômicos do Ministério das Finanças.

No entanto, apesar de a maioria dos negociantes de ouro obter a licença de operação exigida pela polícia, poucos mantêm registro das transações, como manda a lei. Inspeções de casas de penhor em Atenas indicaram que 80% eram culpados de evasão fiscal, privando o governo de milhões e talvez bilhões de euros em receitas, segundo a unidade de crimes financeiros.

A evasão fiscal continua sendo um dos grandes ralos do Estado grego, somando cerca de US$ 58 bilhões por ano. As inspeções da unidade de crimes financeiros sugerem que algumas lojas são fachadas para empresas que enviam grandes quantidades de ouro para fora do país ilegalmente.

Também há sinais de que algumas dessas casas estão recebendo produtos roubados, especialmente joias, o que é difícil identificar porque elas são rapidamente vendidas ou derretidas em fundições. Alguns peritos financeiros dizem que o negócio se assemelha a qualquer outro, parte dele é legal e parte não, com a única diferença sendo o valor maior do ouro.

"Desde o início dos tempos, as pessoas derreteram ou venderam suas joias quando houve necessidade", disse Babis Papadimitriou, um comentarista econômico.

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