Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Carro define identidades na China

Por ANDREW JACOBS e ADAM CENTURY

PEQUIM - Na China, um novo conjunto de estereótipos automobilísticos está se firmando -e a concorrência por fabricantes estrangeiros é cada vez maior.

A Mercedes-Benz, marca que na maior parte do mundo sugere respeito e dinheiro, para muitos chineses remete a aposentados.

O Buick, há muito tempo associado nos EUA a pessoas que gostam de poupar dinheiro, é um carro de luxo admirado na China.

No entanto, nenhum veículo desenvolveu no país uma reputação tão sólida quanto o Audi A6, a opção dos burocratas chineses. Seu desenho elegante e os vidros escuros exalam uma aura de privilégio, autoridade e, para muitos cidadãos, um toque de corrupção.

"É sempre melhor dar passagem para um Audi", diz Wang Zhi, um motorista de táxi em Pequim. "Você nunca sabe com quem está lidando, mas é provável que seja alguém importante."

O mercado de automóveis chinês está se tornando o mais lucrativo e estrategicamente importante do mundo. No ano passado, os chineses compraram 14,5 milhões de veículos de passageiros. As marcas estrangeiras representaram 64% das vendas totais em 2010, segundo a Associação de Fabricantes de Automóveis da China.

Zhang Yu, diretor de uma consultoria da indústria de carros em Xangai, diz: "A China já é o maior mercado do mundo. Nenhuma companhia do setor pode desprezar sua marca chinesa."

Os chineses ricos estão procurando uma série cada vez mais diversificada de carros estrangeiros de luxo. "Como o mercado é tão jovem, as percepções de marca de um carro são críticas", disse ele.

A associação do Audi com os tecnocratas do partido é consequência da entrada do carro no mercado e seu antigo lugar na lista de compras cobiçadas do governo.

"Quando as pessoas veem autoridades em BMWs, automaticamente desconfiam de corrupção ou desvios, mas os Audis são considerados normais", disse Jessica Wu, relações-públicas na indústria de carros chinesa.

Um Audi A6 custa 355 mil yuans (US$ 56 mil); o BMW 5 séries Li, 428 mil yuans (US$ 67.520).

A BMW, baseada em Munique, tem reputação de veículos para arrogantes e bregas (as autoridades ricas preferem serem discretas).

Parte desse estereótipo tem origem em um incidente de 2003, em que uma jovem motorista chinesa intencionalmente atropelou e matou um homem pobre que havia por acidente amassado seu BMW X5. O caso foi resolvido no tribunal por US$ 11 mil. O incidente foi considerado um fator de divisão entre ricos e pobres da China, prejudicando a imagem da marca BMW.

Em maio, o motorista de um BMW M6 matou um pedestre em Nanquim, provocando um protesto público. "Se fossem todos Toyotas, Mitsubishis ou Audis, não acho que teriam gerado reação tão grande", disse um homem. O BMW vende bem na China.

O romance chinês com o Buick tem raízes históricas. O último imperador chinês, Pu Yi, possuía dois Buicks e o ex-premiê Zhou Enlai dirigia um Buick 8 preto.

No Sina Weibo, o blog mais popular do país, uma postagem recente resumiu os clichês dos carros: "Uma reunião de Mercedes indica um encontro de idosos", disse o autor. "Um grupo de BMWs significa jovens novos-ricos prestes a atropelar alguém e fazer uma festa; ao ver vários Audis, você sabe que é uma reunião do governo."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.