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Nos extrovertidos e introvertidos, yin e yang

Liberais e conservadores. Crentes e descrentes. Pássaros da madrugada e corujas.

Todos eles causam dores de cabeça uns nos outros. Mas uma das fontes mais comuns de frustração humana é desprezada: o muro de incompreensão que separa introvertidos e extrovertidos.

Como disse Sartre, "o inferno são outras pessoas no café da manhã".

A menos que sua visão do inferno seja comer com alguém tão perdido nos próprios pensamentos que a conversa vacila e morre.

No entanto, o consenso parece ser que os introvertidos são menosprezados nas sociedades que recompensam os extrovertidos, sociáveis, volúveis e mandões. Pelo menos se acreditarmos nos introvertidos -que tendem a canalizar seus lamentos internos para artigos e livros.

Jonathan Rauch advertiu os extrovertidos na revista "Atlantic Monthly": "Alguém que você conhece, respeita e interage diariamente é um introvertido e você provavelmente está enlouquecendo essa pessoa".

Susan Cain, em seu livro "Quiet: The Power of Introverts in a World That Can't Stop Talking" ["Silêncio: O Poder dos Introvertidos em um Mundo que não Consegue Parar de Falar"], culpa a prepotência, exposição a riscos e atos impensados dos extrovertidos por derrubar o sistema financeiro global em 2008.

Escrevendo no "Times", Cain afirmou que com frequência a timidez e a introspecção são tratados como distúrbios sociais: "Estudos mostram que classificamos as pessoas que falam mais e mais rápido como mais competentes, amáveis e até mais inteligentes que as pessoas lentas". Apesar disso, como apontou a autora de ciência Winifred Gallagher, "nem E=mc2 nem o 'Paraíso Perdido' foram criados por um festeiro".

Mas tente imaginar um mundo sem extrovertidos irreprimíveis como Bono, Bill Clinton e Steve Jobs, inspirando, divertindo e fazendo as coisas (mesmo que seja necessário um pouco de prepotência misturada com excesso de comunicabilidade).

Pesquisas com animais mostram que nossos precursores na evolução revelam um equilíbrio de traços de personalidade. Como escreveu Natalie Angier no "Times", "seres humanos altamente sensíveis, do tipo artístico, têm muito em comum com os porcos e camundongos nervosos".

Entre alguns peixes percóides (percas), existem os "agitados" e os "parados". David Sloan Wilson, biólogo da Universidade Estadual de Nova York em Binghamton, disse que os agitados às vezes conseguem comida mais depressa, mas os cautelosos têm maior chance de evitar redes.

Na natureza, escreveu o professor Wilson, "não há uma personalidade melhor, mas sim uma diversidade mantida pela seleção natural".

Enquanto isso, muitos indivíduos equilibram uma combinação de traços de personalidade. O falante Bono procura a solidão para escrever suas letras.

Apesar das tensões entre os dois tipos, há indícios de que o cisma introvertido-extrovertido pode ser superado. Um dos fatores que contribuem para o fracasso geral de muitos serviços de namoro on-line é que seus algoritmos tentam juntar extrovertidos com extrovertidos, introvertidos com introvertidos.

Mas essas características não predizem o sucesso de um relacionamento. Uma pesquisa com mais de 23 mil casados em 2010 revelou que nas uniões entre diferentes tipos de personalidade essas variações representavam 0,5% do que fazia os casais felizes ou infelizes.

Provavelmente, não se pode dizer o mesmo sobre os casamentos entre liberais e conservadores, crentes e descrentes ou os que gostam de acordar cedo e os que gostam de dormir tarde.

KEVIN DELANEY

Para comentários, escreva para nytweekly@nytimes.com

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