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Dinheiro & Negócios

Laços na fronteira franco-alemã, mas economia à parte

POR STEVEN ERLANGER

SÉLESTAT, França - Esta antiga cidade no centro da Alsácia tem um índice de desemprego de cerca de 8%. Emmendingen, uma cidade alemã de 27 mil habitantes, pouco maior que Sélestat e a apenas 30 quilômetros de distância, tem um índice de desemprego inferior a 3%.

Entre os menores de 25 anos de idade a taxa de desemprego em Sélestat é de 23% e, em Emmendingen, é de 7%.

As circunstâncias econômicas divergentes das duas cidades são marcantes, especialmente diante das ligações culturais na região fronteiriça. Os motivos das disparidades, muito discutidos, surgiram como o ponto focal da campanha presidencial francesa.

Lutando por sua reeleição, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse que os franceses deveriam se tornar mais como os alemães. Se for reeleito, Sarkozy propõe um referendo nacional sobre um mercado de trabalho mais flexível, com um aprendizado no estilo alemão.

Ele quer permitir mais trabalho em tempo parcial, como os alemães, subsidiar mais empregos para jovens e aumentar o imposto de valor agregado para reduzir o custo do serviço social para os empregadores, como fazem os alemães.

A Alemanha manteve sua base industrial e sua vantagem competitiva, enquanto a França não tem um grande setor de empresas industriais de porte médio e depende muito mais de serviços. No entanto, embora muitos franceses admirem os alemães, não querem copiá-los.

"Nós apreciamos seu rigor e disciplina, mas isso não é tudo na vida", disse Alexandre Boer, 52, que trabalha aqui em Sélestat com jovens que enfrentam o desemprego há muito tempo. "Não estamos mais em 1945. Aquele também era um modelo alemão."

No entanto, Sarkozy aposta que os problemas da economia francesa, onde o desemprego jovem é de 23% em todo o país e as exportações estão diminuindo, são tão profundos que os eleitores vão superar sua relutância enraizada e ser mais receptivos a pelo menos uma variante do modelo alemão, que poderia incluir mais horas de trabalho e menos segurança no emprego.

Boris Gourdial, diretor da filial em Freiburg da Agência Federal de Empregos da Alemanha, disse que as mentalidades são diferentes, apesar da história comum e da proximidade. "Os franceses trabalham para viver e os alemães vivem para trabalhar", disse.

Sua colega francesa, Roxane Pierrel, que dirige o departamento de emprego em Sélestat, aponta que os franceses têm mais filhos que os alemães e mais mulheres na força de trabalho, o que incha os números dos que procuram emprego. Mas ele reconhece que os alemães estão se saindo melhor no treinamento dos jovens.

O sistema de aprendizes da Alemanha tira os jovens do caminho da universidade aos 16 anos e os educa em técnicas industriais, enquanto eles estudam para um diploma técnico e trabalham por um salário. Muitas vezes eles conseguem empregos em tempo integral em empresas que investiram no treinamento.

Mas muitos pais franceses e seus filhos ainda consideram um diploma vocacional ou técnico -em vez de um diploma universitário- um sinal de pouca inteligência ou fracasso, disse Pierrel.

"Precisamos convencer os jovens, já que não é bem aceito na família", disse ela. Na França, "isso significa ser um mau aluno. Na Alemanha, não desvaloriza a pessoa".

Mas ela disse que está começando a ver uma mudança. "As empresas daqui estão trabalhando com escolas para promover os aprendizados", e mais jovens consideram a vantagem de um salário em um emprego decente preferível ao desemprego.

Marcel Bauer, prefeito de Sélestat e de seus 21 mil habitantes, também vê uma mudança. Ele se diz orgulhoso do sistema de aprendizado local, que acha que deveria ser desenvolvido no resto da França. Mas, ao contrário da Alemanha, onde os Estados e municípios podem definir muitas regras próprias, na França "o Ministério da Educação quer manter todo o controle", disse.

Bauer lamenta a constante guerra trabalhista na França. "Os trabalhadores alemães aceitam que precisam fazer esforços em uma crise e trabalhar e ganhar menos para manter seus empregos." Mas "entre nós é uma batalha imediata e uma greve com as pessoas nas ruas", disse.

Bauer, que é prefeito desde 2001, vem tentando promover parcerias regionais com os alemães, incluindo com o prefeito de Emmendingen, Stefan Schlatterer.

"Sinto que o centro da ideia europeia é uma parceria estreita entre a França e a Alemanha", disse Schlatterer. "Quando a França e a Alemanha estão próximas, a Europa funciona."

Colaborou Maïa de la Baume

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