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Brigas de casal desafiam até terapeutas

Por ELIZABETH WEIL

Todo mundo já passou por essa terrível experiência: você dá uma festa, ou convida um casal para jantar, e eles começam a brigar. Bom, testemunhar os quebra-paus de um casal deve ser menos ruim para os profissionais, certo?

"Ah, não", diz o terapeuta familiar Terry Real. "É muito pior." Na mesa de jantar, explica ele, você é só um observador, um dano colateral. No consultório do terapeuta, "espera-se que você faça algo a respeito".

Não é segredo que a terapia de casais estressa os terapeutas. "Admite-se amplamente que a terapia de casais é a mais desafiadora", diz Richard Simon, editor da revista "The Psychotherapy Networker".

"Há muita coisa em jogo. Você está lidando com volatilidade. Frequentemente há segredos. Estamos só tentando explicitar algo que as pessoas que fazem terapia de casais já sabem: você muitas vezes se sente confuso, em desacordo com pelo menos um dos seus pacientes, fora de controle."

Parte do problema é que o tipo de pessoa que tende a se tornar terapeuta -gente dotada de empatia, sensibilidade, calma e tolerância- geralmente não dá um bom terapeuta de casais.

"O tradicional 'ã-hã, ã-hã' passivo é inútil", diz Real. "Você precisa gostar de ação. Para administrar um combate conjugal, um terapeuta precisa entrar lá, se misturar ao cliente, ser um ninja. É intimidador."

"É assustador ser confrontado com a força de dois indivíduos fortes que estão colidindo", acrescenta ele.

Os psicólogos Peter Pearson e Ellyn Bader, fundadores do Instituto dos Casais, em Palo Alto (Califórnia), comparam a experiência de oferecer orientação para cônjuges em conflito agudo a "pilotar um helicóptero num furacão".

Até o começo da década de 1960, os cônjuges costumavam buscar orientação separadamente. Mas então os terapeutas começaram a oferecer consultas conjuntas, numa prática criticada nas publicações especializadas por ser "seriamente carente em termos de princípios empiricamente testados", parecendo mais "uma técnica à procura de uma teoria".

Virginia Satir, considerada a "mãe da terapia familiar", argumentava que o objetivo da terapia conjugal não é "nem manter o relacionamento nem separar o par e sim ajudar cada um a tomar conta de si".

Mas em vários consultórios isso não está tão claro. "Para iniciantes, há o risco sempre presente de conquistar a lealdade de um dos cônjuges em detrimento do outro", explica William Doherty, professor de ciências sociais na Universidade de Minnesota. "Uma brilhante observação terapêutica pode explodir na sua cara quando um dos cônjuges acha que você é um gênio, e o outro acha você sem noção -ou, pior, um aliado do inimigo."

Alguns terapeutas estão dando mais ênfase à responsabilidade e ao retorno. A maioria dos terapeutas não sabe até que ponto ajudou seus pacientes no longo prazo ou, quando sabe, não tem condições de comparar o seu desempenho com o dos colegas. Por isso, William Pinsof, professor de psicologia clínica e presidente do Instituto da Família da Universidade Northwestern em Evanston (Illinois), está realizando um estudo em que analisa os comportamentos dos terapeutas em associação com mudanças nos pacientes.

"Muita gente que trabalha primariamente com indivíduos se sente sobrecarregada pelo número de variáveis com as quais é preciso lidar ao trabalhar com casais", disse Pinsof. "Você precisa ser muito ativo na estruturação da sessão, ou o sistema pode fazer você se perder."

"Se você está atendendo casais, não importa o que você faça, você vai ver muita raiva e volatilidade", diz Pearson.

"Você vai ver gente brigando no seu consultório e isso desperta muitas inseguranças e dúvidas -todas as questões da sua própria infância, dos seus próprios relacionamentos. Quem quer se submeter a mais uma dose disso?"

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