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Jardim de arte no Brasil

Por SIMON ROMERO

BRUMADINHO, Brasil - Não surpreende que chamem Bernardo Paz de "imperador de Inhotim".

Cerca de mil funcionários, incluindo curadores, botânicos e pedreiros, trabalham no Instituto Inhotim, complexo de arte contemporânea espalhado por 2.000 hectares nas colinas de Minas Gerais. Amantes das artes têm a chance de ver obras espantosas como "Sonic Pavilion", de Doug Aitken, que usa microfones de alta sensibilidade posicionados num buraco de 192 metros de profundidade para transmitir o som das profundezas da Terra.

Em meio às florestas de eucaliptos de Inhotim, Bernardo Paz espalhou mais de 500 obras de artistas plásticos brasileiros e de estrangeiros. Seu jardim botânico contém mais de 1.400 espécies de palmeiras. Ele brilha quando fala das plantas raras de Inhotim, como a flor-cadáver de Sumatra, assim chamada devido a seu cheiro fétido. Magnata da mineração, Bernardo Paz -61 anos, magro e fumante inveterado- fala aos sussurros. Ele se casou pela sexta vez em outubro, e sua mulher está grávida do sétimo filho dele. Paz tem cabelos brancos até os ombros e olhos azuis claros.

"Este é um projeto para durar mil anos", afirmou, referindo-se ao Inhotim. Grandes coleções privadas de arte foram abertas ao público em outras partes da América Latina, como a Colección Jumex, de Eugenio López, na Cidade do México. E, num arquipélago do mar interior Seto, no Japão, o Sítio de Arte Benesse também combina arquitetura com arte contemporânea.

Mas nenhum desses lugares possui a exuberância do Instituto Inhotim, situado nas colinas marcadas pela mineração da Mata Atlântica, a floresta que cobria a região no passado. Historiadores de arte e curadores ficam maravilhados com a escala e visão do que Bernardo Paz criou.

"A quantidade de espaço dedicado a projetos de artistas individuais é algo que não tem igual, assim como o modo como o visitante se desloca de um edifício a outro, refrescando seus sentidos e mergulhando na natureza", comentou Beverly Adams, autoridade em arte latino-americana.

O fato de deixar os connoisseurs maravilhados ainda parece dar grande prazer a Paz, que abandonou os estudos ainda no colégio. Ele trabalhou na Bolsa de Valores de Belo Horizonte, o que disse ter odiado, e depois no setor de mineração do ferro, montando um império empresarial privado que financia o Instituto Inhotim.

Algumas obras que estão no Inhotim parecem questionar ou até mesmo insultar o conceito de obter lucro com a extração das riquezas da Terra. Por exemplo, uma instalação do artista americano Matthew Barney como cúpulas geodésicas inclui uma cena de violação ambiental: um enorme trator recoberto de barro agarrando uma árvore e suas raízes. Para chegar até a instalação, os visitantes caminham por morros ricos em minério.

O Instituto Inhotim recebeu 250 mil visitantes em 2011. Paz diz que suas empresas fornecem ao instituto entre US$ 60 milhões e US$ 70 milhões por ano. Para tornar Inhotim autossustentável, ele diz que planeja construir dez hotéis no local, um anfiteatro para 15 mil pessoas e até mesmo um complexo de lofts para quem quiser viver no meio da coleção. De acordo com Paz, ainda há lugar para pelo menos outras 2.000 obras de arte em Inhotim. O crescimento do instituto nos últimos dez anos vem dando uma injeção de ânimo na economia da região; muitos dos moradores das cidadezinhas próximas trabalham em Inhotim, fato que os torna dependentes da visão de Paz de montar uma "Disneylândia" de arte contemporânea.

"Antes de Inhotim, nossos homens trabalhavam nas minas ou iam a São Paulo para ganhar dinheiro", contou Profira de Souza, 74, moradora do povoado de Marinhos cujo filho e neto trabalham no instituto. "Deus nos mandou Bernardo Paz e eu rezo para que demore a lhe chamar de volta."

Indagado sobre obras específicas, Bernardo Paz muda o rumo da conversa. Outras coisas em Inhotim atraem sua atenção, como as timbaúbas ou a traíra, peixe carnívoro das lagoas daqui que é capaz de arrancar sangue dos dedos de um visitante.

"Não me considero um apaixonado por arte. Gosto mesmo é de jardins", disse Paz.

Lis Horta Moriconi contribuiu com reportagem

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