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No Iraque dos chefes tribais, a Justiça é rápida

Por TIM ARANGO

ISHAQI, Iraque - Temendo um futuro tão violento quanto o passado e exasperados com os políticos corruptos e incompetentes, os homens que detêm o poder aqui aproveitaram a retirada americana e o caos político nacional para administrar sua própria forma de Justiça: expulsar supostos rebeldes e suas famílias desta cidade sob a ameaça de morte.

Para onde eles vão, os xeques não se importam.

"Em qualquer lugar, menos Ishaqi", disse o xeque Hussein Saydoon, um líder tribal neste território dominado pelos sunitas perto da estrada entre Bagdá e Tikrit. "Se eles voltarem serão mortos. É assim que funciona."

Aqui e em outras cidades, um novo Iraque está tomando forma. O país pode ter sido reforçado por novas ideias de democracia, mas ainda vigoram costumes ancestrais e o poder dos líderes tribais.

Muitos desses xeques já chefiaram equipes de combatentes do Despertar, ex-militantes sunitas cuja decisão de mudar de lado e lutar com os americanos alterou o rumo da guerra e demonstrou a força das tribos nas áreas rurais do Iraque. Segundo eles, a partida dos americanos e a crise política em Bagdá os levou a lidar com os problemas por si mesmos.

"Estávamos preocupados com que as coisas pudessem piorar de novo por causa do que aconteceu com os partidos políticos e suas disputas", disse o xeque Dalf Halob. "Não vamos permitir que os problemas sectários retornem."

Mais de 60 líderes de tribos locais, incluindo grupos xiitas em áreas próximas desta cidade, assinaram recentemente um acordo que autoriza os líderes tribais a combater o terrorismo. Ele prevê duras penas, que não fazem distinção entre insurgentes e os que os ajudam, e obriga até seus parentes a pagar somas às vítimas e a deixar a região. As autoridades locais e comandantes da força de segurança assinaram o acordo, cedendo autoridade às tribos.

"Não queríamos que outros pudessem dizer que quando os americanos saíram o caos voltou", disse Taha Amed, prefeito de Ishaqi.

Como muitas cidades do Iraque, Ishaqi está em um momento incerto depois da retirada americana. Suas terras agrícolas, antes férteis, foram transformadas em campos de batalha sangrentos, e seus moradores dizem que sofreram muito nas mãos dos insurgentes e dos soldados americanos.

Ishaqi também se beneficiou do lado mais benigno da guerra dos Estados Unidos: dez escolas e um hospital foram construídos, as usinas de purificação de água foram reformadas e aperfeiçoadas e estradas e calçadas foram pavimentadas.

Em uma tarde, Rashid al Shathir, chefe do conselho local, dirigiu de seu escritório até sua fazenda. Novas casas estão cheias de terras agrícolas antes irrigadas pelo rio Tigre, mas que se tornaram estéreis com a guerra e o descuido. Shathir disse que cultiva essa área desde 1988, quando "tudo era verde".

Segundo ele, entre 2006 e 2008 sua fazenda se transformou em uma terra de ninguém e muitas autoridades locais dizem que ainda é perigoso visitá-la. "Toda a luta aconteceu aqui. Eles se escondiam entre as árvores", disse.

As colheitas decaíram e os preços desabaram frente às frutas e legumes importados da Síria e do Irã. As dificuldades econômicas e o desemprego são condições que as autoridades temem que possam levar os jovens de volta à militância. Como parte do pacto com as tribos, o governo local prometeu mais medidas para gerar empregos.

A história de Ishaqi esclarece algo que sempre foi verdade sobre o Iraque: a identidade tribal e as tradições predominam no patamar local. "Houve muitos governos aqui que passaram pela história e nada fizeram por nós", disse o xeque Ali Rahim.

Yasir Ghazi e um funcionário do "Times" colaboraram com reportagem

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