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Empréstimo ruim ameaça a Índia

Por VIKAS BAJAJ

MUMBAI, Índia - Quando as pessoas falam sobre o "problema da dívida do governo" na Europa querem dizer algo fácil de descrever: países que pediram mais dinheiro emprestado do que podiam pagar. Na Índia, é um pouco mais complicado.

Aqui, onde o governo luta com a dívida nacional e um crescente deficit orçamentário, o Estado poderia fazer o papel do devedor delinquente, do credor em perigo ou do regulador que arrasta os pés -ou pode fazer os três papéis em um único conjunto de transações interligadas.

A empresa privada Hindustan Construction, por exemplo, está tentando renegociar sua dívida de US$ 1,3 bilhão, parte dela com bancos do governo, para evitar a moratória. A companhia diz que seus problemas financeiros são em parte resultado da demora dos pagamentos do governo a projetos de rodovias e ferrovias, assim como atrasos do governo ao dar a aprovação final a outros projetos já pré-aprovados.

Os empréstimos ruins hoje representam "o mais importante risco ao sistema financeiro" da Índia, segundo uma pesquisa recente feita com cem banqueiros pelo Banco Central da Índia. A economia do país, que já esteve muito aquecida, começou a esfriar e hoje tenta enfrentar a dívida e os problemas de deficit.

No discurso anual sobre o Orçamento ao Parlamento em 16 de março, o ministro das Finanças da Índia, Pranab Mukherjee, disse que o país vai aumentar os impostos e desacelerar o aumento dos gastos, em um esforço para reduzir seu inchado deficit orçamentário. Mukherjee disse que a Índia vai reduzir seu deficit orçamentário para 5,1% do PIB no ano fiscal que começa em abril, contra uma estimativa de 5,9% para o ano atual, contando fortemente com aumentos de impostos sobre vendas e tarifas de importação de carros e ouro.

Analistas e investidores dizem que ficaram decepcionados porque ele não anunciou medidas para estimular a economia desacelerada do país.

Entre as empresas que hoje lutam para pagar seus funcionários, estão duas das maiores companhias aéreas da Índia. Uma é a estatal Air India e outra é privada, a Kingfisher Airlines, que, além de tropeçar nos maus passos de sua própria administração, foi prejudicada pela proibição do governo de que ela use rotas internacionais. No setor elétrico, os analistas descrevem um desastre financeiro que se aproxima para as distribuidoras estatais. Elas acumulam prejuízo de US$ 14 bilhões porque as baixas tarifas estabelecidas pelo governo não cobrem o custo da geração de energia.

A dívida do governo indiano está em quase 69% do PIB, segundo o Citigroup. Isto não é muito diferente dos 71% de um ano atrás. Mas o deficit fiscal vem aumentando e muitos analistas preveem que ele será de 5,8% do PIB no fim de março, frente a 4,8% um ano antes.

O risco caiu desproporcionalmente sobre os bancos de propriedade do governo, que representam cerca de 75% do sistema bancário indiano. No fim de dezembro, 3% dos empréstimos feitos pelos 15 maiores bancos estatais estavam inadimplentes, comparados com cerca de 1,8% entre os seis bancos privados mais novos, segundo a Avendus Securities de Mumbai. A agência de classificação de crédito Care Ratings estimou que 17 bancos públicos e privados tinham US$ 25,7 bilhões em empréstimos ruins no final de 2011 -um número que deveria crescer nos próximos meses, segundo estimativas.

Os analistas dizem que a maioria dos problemas se concentra em indústrias como aviação, infraestrutura, imóveis e telecomunicações -setores em que o governo está fortemente envolvido como ator ou credor, e que também sofreram com as políticas erráticas ou retardadas do governo. Líderes da coalizão de governo encabeçada pelo Partido do Congresso estão profundamente divididos sobre a melhor maneira de avançar, especialmente enquanto sua autoridade política é desgastada por uma série de escândalos de corrupção. Em março, a oposição e partidos regionais tiveram grandes vitórias em cinco eleições estaduais, pondo ainda mais em questão o mandato do governo liderado pelo Partido do Congresso.

"A maioria dos empréstimos inadimplentes não está sendo criada por causa das altas taxas de juros, mas por causa de algum tipo de questão política", disse Samiran Chakraborty, que dirige a pesquisa no banco Standard Chartered em Mumbai.

"A menos que essas questões políticas sejam resolvidas", acrescentou, "a situação de empréstimos inadimplentes poderá continuar preocupante por algum tempo."

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