Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Tecnologia ajuda protestos tibetanos

Por ANDREW JACOBS

TONGREN, China - Com a voz abafada e nervosa, o monge budista discutia as autoimolações e protestos nas regiões tibetanas da China, quando um insistente som de batidas na madeira soou atrás dele.

Seu interlocutor se encolheu, mas o monge, de 34 anos, calmamente apontou um computador ao lado do altar que domina o seu atulhado dormitório nesta cidade monástica da província de Qinghai, no noroeste do território chinês.

As pancadas sinalizavam a chegada de uma mensagem pelo Tencent QQ, serviço de comunicação que diz ter 700 milhões de usuários na China.

Hoje em dia, os sons de iPhones e Skype são cada vez mais ouvidos nos mosteiros budistas desta remota vastidão de prados e picos nevados. Até os nômades usam parabólicas para sintonizar a TV chinesa -e também as transmissões da Rádio Ásia Livre e da Voz da América.

"Podemos estar vivendo longe das grandes cidades, mas estamos bem conectados ao resto do mundo", disse o monge, pedindo anonimato por temer represálias.

A revolução tecnológica vem penetrando nos mais afastados rincões do planalto do Tibete, desempenhando um papel cada vez mais relevante na difusão de uma agitação que volta a chamar a atenção para políticas chinesas que muitos tibetanos descrevem como asfixiantes.

Essa crescente conscientização política encontra uma expressão por meio de uma campanha de autoimolações que as autoridades até agora não foram capazes de conter. Desde março do ano passado, pelo menos 34 pessoas atearam fogo a si próprias, geralmente homens e

mulheres jovens, que eram ou haviam sido monges.

Apesar dos esforços do governo para controlar as comunicações, pessoas comuns reúnem detalhes sobre as imolações e os transmitem para além da "muralha digital" chinesa. Em alguns casos, elas enviam imagens dos momentos finais das vítimas, ou dos instantes imediatamente posteriores, antes que a polícia tire os corpos de vista.

As últimas palavras dos manifestantes geralmente incluem uma reivindicação de maior autonomia e um apelo pela volta do Dalai Lama, o líder espiritual tibetano que está no exílio desde 1959.

"A tecnologia está facilitando uma conscientização que se propaga com mais rapidez do que nunca", disse Kate Saunders, diretora de comunicação da Campanha Internacional pelo Tibete, em Londres.

No entanto, grupos de exilados dizem que o governo tem bastante sucesso nos seus esforços para sufocar as informações na Região Autônoma do Tibete, onde a segurança pode ser draconiana e jornalistas estrangeiros são proibidos.

Mais a leste, em áreas predominantemente tibetanas que até recentemente tinham uma administração mais branda, o medo de retaliações ainda não basta para estancar a partilha de informações.

Nas províncias de Qinghai, Gansu e Sichuan, as autoimolações e a maioria dos protestos populares ocorrem apesar da forte presença militar.

Losang, membro de uma comissão que garante certa autonomia aos monastérios, mostrou o conteúdo do seu computador. Após parar numa foto de um monge de 21 anos que se imolou no ano passado, desencadeando a mais recente série de suicídios, ele foi questionado

se imagens desse tipo não inspiram imitadores. Losang disse que as restrições do governo, e não as fotos dos mortos, estão motivando os jovens a acabarem com as próprias vidas.

"Quando você sufoca uma pessoa", afirmou ele, "não deveria se surpreender por ela reagir chutando".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.