Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Exposição à dívida grega traz grande risco a Chipre

Por JACK EWING

NICÓSIA, Chipre - Michalis Sarris trabalha sete dias por semana tentando juntar capital suficiente para evitar que a instituição em que trabalha naufrague. O destino financeiro de seu país pode depender do balanço.

Sarris, 65, um ex-economista do Banco Mundial e ex-ministro das Finanças de Chipre, foi recrutado por reguladores bancários em janeiro para assumir a presidência da segunda maior instituição financeira do país, o Banco Popular de Chipre. Hoje seu trabalho é encontrar investidores dispostos a aplicar US$ 2,4 bilhões em dinheiro novo no banco, que foi devastado por sua exposição à dívida grega.

Não resta muito tempo: os bancos europeus devem demonstrar para a Autoridade Bancária Europeia até o fim de junho que têm capital suficiente para continuarem operando. Os bancos que não conseguirem fornecer essa evidência enfrentarão pressão para aceitar ajudas do governo ou, em casos extremos, ser fechados.

O fracasso de seu maior banco teria graves consequências para Chipre, cuja economia gira em torno dos serviços financeiros -evido à atração da ilha por seus baixos impostos para o Oriente Médio e a África.

A situação frágil dos bancos e das finanças de Chipre ameaça acrescentar um nome à lista de países da zona do euro que precisam de socorro internacional.

"Por isso cabe a nós, como cipriotas e europeus, não deixar que isso aconteça", disse Sarris.

Os bancos cipriotas têm empréstimos vencidos e outros valores em risco no total de ¤ 152 bilhões, ou oito vezes o tamanho do Produto Interno Bruto do país, segundo o Fundo Monetário Internacional. É o mesmo tipo de extrema vulnerabilidade aos choques financeiros que devastou a Irlanda.

A Grécia, com sua proximidade de Chipre e a língua em comum, parecia um lugar lógico para os bancos cipriotas se expandirem, estendendo empréstimos a empresas e consumidores e se sobrecarregando de dívida do governo grego. Mas a crise da dívida grega expôs os perigos da estratégia: o Banco Popular de Chipre perdeu ¤ 2,5 bilhões no ano passado.

Chipre, que foi dividida em áreas grega e turca desde a guerra de 1974, é considerado amigo das empresas e gozou de uma economia crescente em todos os anos até 2009. O país entrou para a União Europeia em 2004.

Alguns anos atrás, Chipre tinha superavit orçamentários. Mas desde 2009 seu deficit aumentou até alcançar cerca de 7% do PIB em 2011, e o país não consegue mais vender títulos no mercado aberto depois de uma série de reduções em sua classificação de risco. Enquanto isso, o desemprego disparou de 4% para cerca de 10%. "É realmente um choque", disse Elena Liasi, 45, que diz estar desempregada há um ano e meio.

Ela, seu filho de 12 anos e seu marido vivem do salário do marido, de cerca de ¤ 1 mil por mês, como vendedor para uma empresa de serviços alimentares.

Liasi, que estudou administração hoteleira e trabalhou como projetista de cozinhas, disse que fez 27 entrevistas de emprego. "Eles dizem: 'Vamos chamá-la, vamos chamá-la.", disse. "Eu não acredito mais em ninguém."

Os empresários de Chipre temem a perspectiva de pedir ajuda à União Europeia. Em troca, a UE poderia exigir que Chipre aumente seu imposto de 10% sobre lucros corporativos, um ponto de venda crucial para uma economia baseada em serviços financeiros.

No ano passado, Chipre foi congelado nos mercados de dívida internacionais e recorreu à Rússia. O governo russo emprestou ao cipriota ¤ 2,5 bilhões a uma taxa abaixo de mercado, de 4,5%.

Mas a Rússia não deverá aumentar seu risco em Chipre com outro empréstimo. Esse é um motivo pelo qual a busca de Sarris por capital estrangeiro tem o caráter de uma missão nacional para Chipre, que conquistou a independência do Reino Unido em 1960.

"Nosso atraente sistema fiscal poderia ser insignificante sem um sistema bancário forte", disse Sarris. "A economia de Chipre sofreria um recuo para a época anterior à independência."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.