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Na mídia chinesa, as melhores notícias estão à venda

Por DAVID BARBOZA

XANGAI - A China é famosa por censurar a cobertura na imprensa de assuntos politicamente delicados. Mas é mais que favorável a deixar que notícias elogiosas sobre empresas ocidentais e asiáticas apareçam na mídia impressa, rádio e televisão -por um preço adequado.

Quer que o perfil de seu principal executivo apareça na versão chinesa da "Esquire"? Custa cerca de US$ 20 mil por página, segundo a revista, que tem um acordo de licenciamento com a Hearst Corporation dos Estados Unidos.

Precisa colocar seu diretor em um programa de notícias da Televisão Central da China, estatal? Pague US$ 4 mil por minuto, diz o consultor da rede que arranja essas aparições.

Um artigo elogioso sobre sua empresa no "Diário do Povo", o jornal de propaganda do Partido Comunista? Cerca de US$ 1 por caractere chinês, diz o agente de publicidade do jornal.

As leis e os regulamentos da China proíbem material promocional pago que não seja rotulado, mas a prática é generalizada. Firmas de relações públicas e publicidade são surpreendentemente francas sobre seu papel na compra de cobertura elogiosa, que é chamada de "soft news" [notícias macias].

A Ogilvy & Mather, uma das maiores agências de publicidade e relações públicas do mundo, admitiu que paga aos canais de mídia chineses pela cobertura de clientes em certas categorias.

"Nossa política é aconselhar nossos clientes a não participar dessas atividades", escreveu em um e-mail o escritório da agência em Pequim, respondendo às perguntas de um repórter. "No entanto, em certas indústrias, como a de artigos de luxo, a prática da colocação de 'soft news' é muito comum, por isso é algo que também já fizemos."

Especialistas da mídia e jornalistas chineses que agem de forma ética lamentam o material pago que eles dizem ser muito comum na mídia nacional.

"A corrupção tornou-se um estilo de vida na China", disse Sun Xupei, um professor de jornalismo na Academia Chinesa de Ciências Sociais em Pequim. "Mas quando acontece no jornalismo é ainda pior que em outros campos, porque as pessoas sentem que não podem confiar em nada."

Canais de mídia da Europa, no Japão, nas Filipinas, na América Latina e nos EUA podem se aventurar em várias áreas questionáveis, como incentivar empresas a pagar por viagens de jornalistas, endossar reportagens favoráveis ou vender pacotes de publicidade em troca de cobertura noticiosa.

Mas especialistas em mídia dizem que em nenhum lugar esses intercâmbios são tão comuns e tão agressivamente praticados quanto na China -para frustração dos executivos chineses.

Um investidor baseado em Xangai disse: "Se uma de minhas empresas descobrisse a cura do câncer, nem assim eu conseguiria que jornalistas viessem para uma entrevista coletiva sem lhes prometer um gordo envelope de dinheiro". Ele insistiu que seu nome não fosse citado por temer que os jornalistas boicotassem totalmente a cobertura de suas empresas.

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