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Revendo os eletrônicos da cozinha

Por WILLIAM GRIMES

Toda cozinha tem uma. O engenhoso descascador de aspargos. O porta-papel-toalha automático. O moedor de pimenta elétrico.

São os utensílios que o Gail Simmons, autor de "Talking With My Mouth Full: My Life as a Professional Eater" ("Falando de Boca Cheia: Minha Vida como Comedor Profissional"), chama de "os esqueletos no armário da cozinha". Eles foram adquiridos com entusiasmo e com altas expectativas culinárias. Agora vagam pelas gavetas ou ocupam espaço nas prateleiras.

Às vezes, a culpa é do equipamento, que tem mecanismos demais, design demais ou uma função específica demais. Quem realmente precisa de uma minisserra circular para cortar pizza?

Com frequência, também, o culpado é o comprador, vítima de expectativas irreais. Até profissionais experientes podem se deixar seduzir por um equipamento chamativo, ainda mais se tiver sotaque estrangeiro.

"Quando você viaja, é apanhado pelo momento", disse Christopher Koetke, vice-presidente da escola de culinária do Kendall College, em Chicago, que nunca usou a máquina de fazer polenta trazida da Itália há 15 anos.

O arquivista de filmes Dennis Nyback, de Portland, Oregon, comprou um fatiador de manteiga num bazar. Parecia uma aquisição brilhante -poder dividir com um só golpe um bloco de manteiga em dezenas de porções. "Eu não esperava que mudasse a minha vida, mas esperava que, se eu encontrasse um bloco de meio quilo de manteiga, estaria preparado. Esse dia nunca chegou."

E nunca chega. Julia Collin Davison, de Natick, Massachusetts, editora de comidas do departamento de livros da America's Test Kitchen, tinha grandes expectativas para sua caçarola de salmão. Lêdo engano. "É incômodo trabalhar com ela. É um equipamento de formato estranho, que ocupa duas bocas de fogão. Sou casada com um vendedor de peixes, então tenho acesso ao que há de melhor, e mesmo assim não uso."

Sara Moulton, autora de livros de receitas e apresentadora da série de TV "Sara's Weeknight Meals", comprou uma panela de pressão há 15 anos e logo se desencantou. O cozimento com temperatura e intensidade elevadas tirava nutrientes dos alimentos, alertou uma colega. E o medo se instalou quando ela considerou o potencial explosivo da panela, que foi precocemente aposentada.

Quando Simmons adquiriu uma máquina de café expresso e uma cafeteira de filtro especial para café vietnamita, se esqueceu de pensar no consumidor final. "É triste, mas a verdade é que quase nunca faço café em casa."

Talvez mais frustrantes sejam as geringonças reprovadas no teste definitivo da utilidade de uma ferramenta: facilitar as coisas. Sarah Lohman, autora do blog Four Pounds Flour, pediu um multiprocessador num Natal.

"Achei que isso iria revolucionar o meu mundo culinário", disse ela. "Todas aquelas receitas que eu queria fazer exigiam um. Ele iria facilitar muito o meu mundo de picar, ralar, fatiar, bater e misturar manteiga com farinha."

Mas ela achou as peças complicadas de limpar, e o processador hoje hiberna sob o balcão da cozinha. Lohman voltou a picar e fatiar com suas facas favoritas.

"O que deveríamos perguntar é: quais são as ferramentas mais simples que são mais eficazes?", disse. "É muito difícil encontrar uma que facilite as coisas em vez de acrescentar um passo extra ou dar mais trabalho."

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