Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ESTILO DE VIDA VERDE

Cores que vêm da natureza

Uma nova geração descobre os corantes artesanais

POR MICHAEL TORTORELLO

A arte da tinturaria natural está quase extinta desde meados da era vitoriana. Mas, na experiência de Sasha Duerr, professora de design têxtil da Faculdade de Artes da Califórnia, em Oakland, nos últimos dois anos o interesse pelas tinturas botânicas floresceu.

Outro dia, Duerr, 36, acendeu três fogareiros de camping e botou algumas coisas para ferver. Ela pretendia demonstrar como é fácil transmutar plantas comuns em corantes de tecido naturais, de rara beleza.

A fórmula é conhecida desde os tempos de Plínio, o Velho: encha um recipiente com água, acrescente um cesto de folhas e um quadrado de seda e leve a poção ao fogo. Aí espere a mágica acontecer.

"Raízes de papoula dão um laranja-amarelado", disse ela. As favas dão um verde claro.

Em Boerum Hill, no Brooklyn, um novo jardim de tinturas e um programa de Agricultura Amparada pela Comunidade serão criados neste semestre num antigo terreno baldio. O Centro de Artes Têxteis, que está ajudando a criar o jardim, irá oferecer não só plantas como também uma oficina e acesso ao seu ateliê.

Os corantes naturais estão por todo lado, "mas as pessoas não estão cientes deles", disse Isa Rodrigues, 26, que organiza o programa. As cores podem vir de flores comuns (como dálias e tagetes); de folhas de árvores (bordo japonês, liquidâmbar); bagas (a amora-silvestre, o fruto do sabugueiro); ervas (hortelã, alecrim); castanhas (a bolota, a casca da noz-preta); e cascas de árvores (bétula, medronheiro).

Em manuais antigos, é possível identificar as plantas usadas tradicionalmente como corantes -ruiva, pastel, anileira- por causa da palavra "tinctoria" ou "tinctorum" no nome científico. Mas Pamela Feldman, 58, sempre precisou apresentar esses espécimes misteriosos aos outros jardineiros comunitários que dividem com ela o terreno do antigo Sanatório Municipal de Tuberculose de Chicago.

Há 17 anos, Feldman publica o Turkey Red Journal (turkeyredjournal.com), periódico bianual que trata de temas como as tinturas japonesas de barro e os corantes escandinavos de cogumelos. Mas a maioria dos tintureiros parece aprender em oficinas ou estágios.

O que os artistas veem nos corantes naturais? "Para mim, obter a cor é parte da arte", disse Feldman sobre os tapetes que tece. "Se não, é o trabalho de outrem."

Para Duerr, que tem uma entidade chamada Permacouture Institute, as tinturas naturais são variedades não comerciais de frutas e legumes cultivadas por amadores. "É difícil voltar [ao produto industrial] depois de experimentá-la", disse.

Uma tintura botânica depende dos caprichos da terra: o clima, a insolação, o pH da água e a fertilidade do solo. A azeitona que Duerr arrancou num certo novembro propiciou um matiz verde-azulado. Um ano depois, em fevereiro, ela disse: "Obtive azul-anil da mesma árvore".

Os entusiastas da tintura natural chamam isso de sorte. Os fabricantes de tecidos chamam de inconsistência e não gostam.

As tinturas sintéticas foram inventadas em 1856, e revelaram ser baratas de fabricar. Em poucas décadas, os corantes naturais praticamente sumiram do mercado, segundo Georgia Kalivas, que leciona no Instituto de Tecnologia da Moda, em Nova York. Mas, com as tinturas sintéticas, substâncias químicas adicionais podem entrar nos esgotos. Os subprodutos da tintura industrial incluem solventes aromáticos, formaldeídos, alvejante à base de cloro e sais de metais pesados, disse Kalivas. Quanto mais rapidamente esses produtos saírem de moda, acrescentou, melhor.

Duerr sacudiu uma pitada de bicarbonato de sódio sobre uma amostra tingida com flores. Ela passou de amarelo para um tom laranja-acobreado, típico dos anos 1970. "Esta cor estava em alta neste ano", disse Duerr. "Toda a moda se recicla."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.