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Balões de vigilância se proliferam no Afeganistão

Uma tecnologia mais barata para conter o Taleban

Por GRAHAM BOWLEY
CABUL, Afeganistão - Os balões de vigilância se tornaram uma presença constante nos céus de Cabul, de Kandahar ou de qualquer outro lugar em que haja concentração ou interesse de tropas americanas.

Reluzindo a mais de 450 metros de altura em meio à névoa diurna, ou visíveis como uma luz brilhando à noite, os balões aerostáticos de 35 metros, equipados com câmeras para imagens a cores e em infravermelho, são peças centrais entre os recursos tecnológicos adotados por militares dos EUA para fins de vigilância e inteligência.

"Ele nos observa dia e noite", disse o comerciante Mir Akbar, 18, acompanhando um balão cujo nariz virava com o vento de leste para oeste.

Nos últimos anos, os balões se tornaram parte de uma rede cada vez mais ampla de equipamentos -aviões teleguiados, torres com câmeras em quartéis e um circuito fechado de TV registrando imagens das ruas de Cabul-, o que permite que comandantes americanos e afegãos fiquem de olho em mais lugares onde os americanos estão lutando.

Os balões são agora tão comuns no cotidiano afegão que algumas pessoas aqui dão de ombros e dizem mal reparar neles. Outras partes da rede de vigilância se integraram à paisagem urbana também, especialmente em Cabul, onde câmeras observam locais suscetíveis a ataques, como a Suprema Corte, rotatórias de tráfego e rodovias que passam por guarnições militares.

Mas outros afegãos descrevem uma crescente opressão, a sensação de que, embora os americanos estejam empacotando suas coisas para irem embora, os olhos dos estrangeiros estarão sempre sobre eles.

Isso geralmente é expresso na típica maneira afegã, numa torrente de resmungos, ironias e frases ressentidas: "É uma pipa americana", "Afegãos e americanos estão lá em cima" (não há ninguém nos balões); "Isso nos mostra que, com certeza, os americanos ainda estão aqui"; "Não é eficaz porque ainda há atentados suicidas e carros-bombas".

Para outros, as câmeras são uma ultrajante intrusão na sua privacidade, expondo mulheres e crianças a estrangeiros que eles veem como imorais.

"Não podemos mais dormir nas nossas lajes", disse Mohammadullah (que usa um só nome), morador de Asadabad, capital da província de Kunar, onde as famílias costumam dormir nas lajes durante o verão. "Sempre que nossos parentes andam no quintal durante o dia, ou sempre que queremos dar um 'oi' para a nossa mulher quando dormimos nas lajes, sentimos que alguém está nos observando."

Usados pela primeira vez em 2004 no Iraque, os balões de hélio foram introduzidos no Afeganistão em 2007 e os militares os enviam para lá desde então.

Os comandantes americanos os adoram, pois os balões lhes dão uma eterna vista colorida para vias importantes e os ajudam a flagrar insurgentes que plantam bombas. Eles são mais baratos que os aviões teleguiados, que custam milhões de dólares e viram manchete.

"Foi um divisor de águas", disse Ray Gutierrez, que treina as equipes de civis, todas compostas por americanos, que operam as câmeras e as unidades militares que dependem delas. "Ele nos permite ver o campo de batalha como nunca pudemos ver antes."

Para o Taleban, os dirigíveis se tornaram motivo de temor. Os insurgentes evitam áreas sob os balões e passaram a se disfarçar de agricultores para evitar a detecção -e o letal bombardeio que geralmente se segue, segundo moradores.

No distrito de Zhare, na província de Kandahar, um dos focos do reforço militar enviado em 2010 pelo governo Obama, pelo menos um balão aerostático pode ser visto de praticamente qualquer aldeia.

Além de apenas verem o Taleban, os balões também os controla, tornando as emboscadas mais raras nas rotas sob sua observação, segundo os americanos.

De vez em quando, os ventos e as tempestades do verão afegão rompem as cordas que prendem os balões. E também há o tiro ao alvo.

Muitas vezes, quando os operadores descem os balões para manutenção ou para protegê-los de tempestades, diz Eddy Hogan, que administra os equipamentos, marcas de tiros são encontradas por todo lado, comprovando que os balões atraem ressentimentos.

Mas, acrescentou ele, "são precisos centenas e centenas de tiros para derrubá-los".

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