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Ensaio - Eduardo Porter

O superavit chinês está desaparecendo

O desequilíbrio econômico dos Estados Unidos com a China tem sido uma preocupação singular dos políticos há mais de meia década. Os senadores Charles E. Schumer e Lindsey Graham quiseram punir a China por atrelar a taxa de câmbio ao dólar em 2005, afirmando que sua política de baratear a moeda para subsidiar as exportações estava alimentando um enorme superavit comercial que custava empregos nos EUA.

Sua lei nunca foi aprovada. Mas reduzir os superavits da China permaneceu no topo da agenda bilateral desde então.

Algo inesperado aconteceu com a economia chinesa, porém. Seu superavit com o resto do mundo desapareceu em parte.

O superavit de conta corrente da China -a medida mais ampla de suas relações comerciais, que acompanha quanto mais o país exporta em produtos e serviços do que importa- despencou. Em 2007, ele representou mais de 10% de toda a economia chinesa. Mas, no ano passado, tinha encolhido para cerca de 2,8%. E o Fundo Monetário Internacional estima que vá cair para 2,3% da produção do país em 2012, a menor porcentagem desde 2001.

A China, na verdade, tinha um grande deficit com o resto do mundo no ano passado, indicando que sua invasão dos mercados mundiais pode estar chegando ao fim. Em 9 de maio, a China anunciou que o crescimento das importações tinha aumentado apenas 0,3% em relação ao mesmo período do ano passado, comparados com expectativas de um aumento de 11%.

"O rápido crescimento do mercado de exportação chinês durante a última década foi consequência de fatores que de modo geral cumpriram se curso", notou a Previsão Econômica Mundial do FMI. Estes incluem mão de obra barata, a terceirização da produção de multinacionais para a China, um enorme salto de produtividade e a entrada da China em 2001 na Organização Mundial do Comércio, que limitou a capacidade de outros países impedirem suas exportações.

Os salários na China vêm aumentando na última década. Isto, juntamente com os custos de transporte, levou empresas americanas, incluindo a General Electric, a deslocar parte da produção de volta para os EUA.

Embora a China tenha apenas lentamente afrouxado seu controle da taxa de câmbio, a valorização é maior do que pode parecer. Nominalmente, o renminbi chinês aumentou 8% em relação ao dólar desde junho de 2010. Mas incluindo o fator inflação ele ganhou 13%. E se valorizou cerca de 40% em termos reais desde 2005.

O FMI prevê que o superavit da China se recupere para 4,25% do PIB até 2017. Mas notou que se o renminbi continuar subindo o superavit será menor.

Ainda é cedo para saber se essas mudanças realmente significam que a China está virando uma página em sua estratégia de desenvolvimento.

Um motivo importante pelo qual o superavit encolheu na China é que a recessão global cortou os gastos do consumidor de seus principais mercados de exportação nos EUA e na Europa. A reação da China à contração global -gastos em infraestrutura pública e empréstimos baratos para investimentos privados- atraiu importações rapidamente.

Esses fatores estão se revertendo. Além disso, o boom de investimentos poderia ajudar as empresas chinesas a ganhar novos mercados de alta tecnologia.

Ainda assim, a China não adotou muitas das reformas necessárias para uma nova fase de desenvolvimento menos dependente das exportações e mais dos gastos da população.

Os salários precisam aumentar e o governo deve reforçar a rede de segurança social -fornecendo melhores pensões e atendimento de saúde para que as famílias chinesas não tenham de economizar cada centavo para uma emergência. E as taxas de juros sobre os depósitos bancários também devem aumentar.

Ainda assim, a meta de uma economia chinesa mais equilibrada está mais perto do que esteve em pelo menos uma década. O plano de cinco anos da China iniciado no ano passado se concentra no objetivo de aumentar a renda das famílias, mudar para uma economia mais dependente de produção e serviços e construção da rede de segurança social.

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