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Remédio na cabeça

Quando o site da revista "Science" divulgou um estudo mostrando que machos das moscas-das-frutas recorriam ao álcool ao serem rejeitados pelas parceiras, metade da humanidade se identificou com aquela situação.

Cientistas evolucionistas afirmam que os resultados da pesquisa sugerem que houve pouquíssima mutação no sistema cerebral de recompensas ao longo das eras.

"Ler esse estudo é como olhar para trás no tempo, para ver as próprias origens do circuito de recompensa que impulsiona comportamentos fundamentais como fazer sexo, comer e dormir", disse ao "Times" Markus Heilig, diretor clínico do Instituto Nacional de Abuso do Álcool e Alcoolismo.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, permitiram que moscas-machos copulassem com fêmeas virgens. Depois, outro grupo de machos foi exposto a fêmeas que já haviam copulado e estavam, portanto, desinteressadas por sexo.

As moscas rejeitadas enchiam a cara, bebericando uma mistura "batizada" com álcool, numa intensidade muito maior do que seus pares saciados sexualmente, contou o "Times".

Heilig, que não participou do estudo, disse que as descobertas corroboram a busca por drogas que reduzam a ânsia de humanos por bebida.

Os cientistas também já identificaram drogas que podem vir a tratar o acúmulo de proteínas no cérebro, causador de doenças degenerativas nos centros nervosos dos lobos frontais e temporais-, responsáveis pela tomada de decisões, emoções, julgamento, comportamento e linguagem.

A demência frontotemporal, ou doença de Pick, pode fazer pessoas próximas agirem de forma irreconhecível. Muitas vezes, ela é confundida com alzheimer, derrame, crise da meia-idade ou doenças psiquiátricas, escreveu o "Times". Muitos médicos atribuem o comportamento alterado a uma mera mudança de personalidade.

"Os lobos frontais são uma espécie de última fronteira no cérebro", disse ao "Times" Edward Huey, professor-assistente de psiquiatria e neurologia do Centro Médico da Universidade Columbia.

Esses pacientes têm compulsões, como lavar as mãos, mas não da maneira preocupada ou ansiosa de um obsessivo-compulsivo. Alguns perdem inibições ou o senso de moral.

"Eles não ficam desanimados, mas não gostam mais das coisas como antes", disse Huey. "Parece haver uma disfunção no circuito de recompensa".

A dependência de álcool e o acúmulo de proteínas no cérebro são problemas fisiológicos que podem ser tratados com novos compostos. Mas e o senso de moral? Deveríamos procurar drogas que "curem" comportamentos que violem os padrões considerados moralmente corretos?

Peter Singer e Agata Sagan, em artigo no "Times", disseram que a compreensão sobre o que governa o comportamento moral ainda é turva. Eles perguntam: "Por que algumas pessoas estão preparadas para arriscar suas vidas para ajudar um estranho, enquanto outras nem param para ligar para o número de emergência?".

Eles sugerem que pesquisas podem indicar diferenças bioquímicas entre os dois tipos, e que um dia poderá haver uma "pílula da moral" para evitar comportamentos criminosos, ou apenas para nos tornarmos cidadãos melhores.

"A ideia não é descabida", disse a dupla. "Agora, será que as pessoas escolheriam experimentar a pílula?"

TOM BRADY

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